sábado, 26 de março de 2011

Missa dominical na Radio Renascença

Alertado, sintonizei a Rádio Renascença (RR) neste Domingo 2º da Quaresma, para, em silêncio seguir a missa dominical em Vale de Figueira. A curiosidade e o afecto de ouvir o celebrante foram os motivos que me levaram a esta pausa dominical.
        Como toda a gente se lembra, do Pico saiu, há já alguns anos, por motivos sobejamente conhecidos, o Padre Luciano Oliveira. Nos arredores de Santarém foram-lhe entregues as comunidades de Vale de Figueira, Póvoa de Santarém e Alcanhões. Em todas desenvolve a sua actividade, perfeitamente inserido na Igreja Diocesana de Santarém, nas actividades religiosas, sociais e culturais. Ainda há pouco por lá passámos e disso nos apercebemos.
        Pois, neste domingo, 2º da Quaresma, domingo da Transfiguração do Senhor, a missa dominical escolhida pela Rádio Renascença para sua transmissão programática foi a Missa de Vale de Figueira, celebrada pelo P. Luciano Oliveira.
Por essa razão, pelo afecto e pela simpatia que deixou nesta terra, elaborei este apontamento semanal.
 Não para ferir susceptibilidades dos tempos passados, mas apenas e só para lembrar a solidariedade cristã que continua, pelo trabalho que fez e pistas que indicou. E dizer, abertamente, que, por momentos, sentimos a presença do homem da Igreja que as circunstâncias congeminadas de então obrigaram a sair da Ilha que muito o respeitou.
        Gostámos de ouvir a saudação inicial através da Rádio Montanha: “…Uma saudação especial para todos, sobretudo para a minha querida Ilha do Pico que nos segue através da Rádio Montanha”.
Para nós picoenses, não muitos, esta transmissão radiofónica, talvez tenha contribuído para menos presenças nas igrejas e naquele Domingo. Foram, todavia, compensadas por mais atenção e concentração. Nada mais do que isso.
Faz bem lembrar ressonâncias que dificilmente esquecem, sobretudo naqueles que bem conheceram o Padre Luciano e com ele conviveram, quer no Sul quer no Norte da Ilha.
 Os mensageiros, embora instrumentos, também são garantia da eficácia da mensagem. Se bons, a mensagem passa. Se maus, não passa. É um dado reconhecido por todos. Não há que ter medo de o dizer e apregoar, seja a quem for.
        Para o Padre Luciano Oliveira, a continuação de bom e proveitoso trabalho por terras do Ribatejo.
        Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)
       

sábado, 19 de março de 2011

Cónego José Garcia

Recordo-o ainda a descer os degraus dos teólogos, lá de cima do último andar, aonde cada aluno tinha o seu quarto para estudar e repousar no silêncio imposto pelo horário da instituição.
       Não era dado a futebóis nos recreios. Mais dado à interioridade, sem deixar de ser alegre e benquisto junto dos outros que o rodeavam.
       Mais tarde, melhor o conheci nas tarefas paroquiais que lhe destinaram na Sé Catedral de Angra. Aqui, sim, conheci-o perfeitamente.
        Durante anos foi admirado e querido na Catedral pelos frequentadores da cidade – praticantes e não praticantes – que nunca lhe faltaram com a adesão às suas solicitações. Foi sobretudo na implementação da liturgia pós conciliar que mais se notabilizou. Ali, na Sé, havia o exemplo claro e nítido de como “as coisas” deveriam ser feitas. Sem excessos, apenas e só com o essencial.
        Foi assim que conheci o Cónego José Garcia. “Pontífice” para a nova geração de então, como então, alegremente e sem maldades, era tido e achado por quem dele se aproximava. Foi sempre cavalheiro, compreensivo e acolhedor.
Nunca relegou ninguém, mesmo dos que com ele não concordavam. E foram muitos. Hoje, passados estes anos – e agora por ocasião do seu falecimento – alguém ainda vivo e de nome feito, lembra os tempos idos, como sendo tempos da “crise sacerdotal”, e do seu papel no meio da tempestade.
O Padre José Garcia foi, na verdade, “um gigante no seu campo de acção”, e foi um “gigante” no meio da turbulência, motivada e incentivada mais pelos de dentro do que pelos de fora. O Cónego Garcia foi sempre frontal, e sempre apoiou quem dele se aproximava. Nunca virou as costas.
Os mestres de então, nas suas “tebaidas” instalados, depressa fugiram. Viraram-se para dentro das quatro paredes, lavaram as mãos como Pilatos, e deixaram as tropas à deriva. Ainda hoje são notórios os seus olhares enviesados e convictos de únicos ícones de salvação eterna.
 Não houve nenhuma crise. Houve, sim, confronto de ideias e de pensamentos. E cada um, conforme as orientações dos formadores, assimiladas durante anos de internamento, seguiu a sua convicção. Não ficaram sendo presa dos que depressa regressaram aos aposentos. Preferiram a liberdade de consciência.
É justo não esquecer quem muito deu “sem olhar a quem”. Se o falecimento do P. Garcia é ocasião para enaltecer, justamente, a sua figura, é também ocasião para, justamente, recordar os novos companheiros de então, alguns também já falecidos, que sempre sentiram a sua mão acolhedora. Agora juntos, no “vale dos caídos”, mereçam a recompensa que os humanos não souberam dar.
Este momento é de admiração e respeito. Por todos os que sofreram e enfrentaram as garras do leão. Recordo com saudade a posição cordial e firme do P. José Garcia, no seu trajecto que escolheu. Também teve de suportar e de enfrentar incompreensões múltiplas. Valeu-lhe a sua estrutura intelectual, exemplar e moral, de amor às coisas da Igreja, e do apoio e admiração que sempre granjeou junto da população de Angra.
Esteve sempre ao lado dos novos companheiros, traídos pelo poder instalado do presbitério. Tarde virá outro de igual estatura moral que lhe faça companhia na galeria dos notáveis da sala capitular da Sé de Angra.
É o meu testemunho a quem sempre me cumprimentou com alegria e boa disposição humana. Faleceu a 15 do corrente na Clínica do Bom Jesus em Ponta Delgada. Paz à sua alma.
Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)

                       

quinta-feira, 17 de março de 2011

Angola 69-71

É o título de um pequeno opúsculo publicado em Angola pela Companhia de Comandos e Serviços do Batalhão de Caçadores 2889 no fim da comissão de serviço, aquando do regresso à Metrópole.
Neste opúsculo de 48 páginas, além de um resumo das actividades desenvolvidas durante dois anos, constam as fotografias de todos os componentes da Companhia daquele Batalhão de Caçadores, formado no quartel de Abrantes.
Coube-me esta unidade militar, após sorteio efectuado no fim do curso de preparação na Academia Militar nos finais de Outubro e já quando o Batalhão havia embarcado para Angola. Acabei por seguir e a ele me juntar no dia 13 de Dezembro de 1969, em Sanza Pombo.
O livrinho atrás citado foi o elo que, durante anos, manteve o afecto humano vivido durante dois anos em Angola. Assim aconteceu na celebração dos 20 anos depois, e assim voltou a acontecer agora. Desta vez, e porque os anos se vão acumulando e a dispersão se acentua, com apenas os sete Alferes de então, a saber: Mário Silva (Santo Tirso), João Maçãs (Portalegre), Frankim Baptista (Leiria), Rui Serrador (Montijo), Fernando Rocha (Braga), Domingos Martins (Porto) e Emílio Porto (Pico), respectivamente e na altura: o Alferes Médico, o Alferes de Reconhecimento, o Alferes de Transmissões, o Alferes de Manutenção, o Alferes de Secretariado, o Alferes dos Sapadores e o Alferes Capelão.
Estes “senhores”, acompanhados das suas respectivas consortes, já todos reformados, resolveram encontrar-se em Santarém, a 12/13 de Março, quase quarenta anos depois. À volta da mesa e dos “descansos de sofá pela tarde fora”, deram largas aos “casos” e “outras histórias” ocorridas, revendo e comentando imagens dos tempos idos.
Deste encontro releio o que então me coube escrever e que se encontra na primeira página do opúsculo atrás citado: “ esta pequena publicação pretende ser, pela vida fora, a continuação dessa amizade, a presença de alguma coisa que passou e que não volta, mas que permanecerá, na construção dum ideal único – construir na retaguarda, um Portugal cada vez melhor.”
“In illo tempore” – anos 60/70 do século passado, tempo de imposições que a mitra decretava, apesar da aceitação sem queixumes pelas fracas migalhas do pão de cada dia – havia também o “à rasca” que hoje se apregoa. Era, então, o “à rasca” de se mandar para a guerra – castigo, e também fuga, para quem contestava, para quem recebia em troca o ultraje do poder instalado. Fora daqui! Traidores!!! Alguns, doutores da lei e algozes de então, ainda hoje se passeiam, altaneiros, pelos corredores das cúrias e dos paços. Como bons exemplares fariseus, mandam as criadas "dar anátemas no jornal da aldeia".
 Raimundo, Artur, Benjamim, Arsénio, José Gomes, José Agostinho, Mariano e tantos outros, lá foram, por lá andaram e por lá se ficaram. Aqui os recordo com emoção, olhando os dias traquinas, boémios e "abençoados" da Academia Militar, por entre corridas e palestras castrenses de boa conduta militar e cívica. Era o “à rasca” de tipo inquisitorial: dum lado a espada, do outro a cruz.
Todavia, as cantigas eram fortes e de qualidade. Davam ânimo ao futuro desconhecido. Vingaram e o maná nunca faltou, acabando por construir na retaguarda e nos flancos o ideal que sonharam. Há sempre “alguém que resiste”, e há sempre uma nova porta que se abre.
Hoje, tempo de coisas fáceis, de abundâncias topo de gama, uma coisa estranha nos aparece quase incompreensível: apesar de toda a oferta de bem-estar e ao dispor, a mitra manda pedir esmola - é a diocese também à rasca!
Assim sendo, o “à rasca” é outro: é de fracasso. De uma vil tristeza. Sem tino, navega-se ao sabor dos ventos, e engana-se o povo com a ideia falsa de grande serenidade interior. São, como sempre, as aparências tradicionais. Haverá ainda quem acredite?
É o que temos. Parece que ninguém aprende com a história. Valha-nos a memória do bom Papa João XXIII, das cantigas do Zeca e do Adriano, mais as do Padre Fanhais e das memórias dos que já partiram, mais as recordações daqueles jovens atrás citados, agora velhotes, companheiros nos matos densos de Angola, lugares que foram de solidariedade, de força e tenacidade.
Quem semeia sempre colhe. É a lição que fica. Porque o “à rasca” será de sempre, sempre de novas formas revestido. Uns compreendem-se, brotam dos fracassos humanos. Outros lastimam-se, brotam das incompetências. Compete-nos a todos fazer a avaliação. Pelos frutos.
Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)

terça-feira, 15 de março de 2011

Beatificação de João Paulo II

Assunto incontornável nos meios da Igreja Católica, de momento, é a beatificação de João Paulo II.
        Nos últimos dias da sua vida foi acompanhado por milhões de simpatizantes. Uns, crentes católicos, outros apenas admiradores. Foi uma figura extraordinária dos nossos dias.
        Por essa razão, logo no dia do seu funeral, apareceram as vozes gritando que fosse declarado santo imediatamente. “Santo súbito”, assim aparecia nos cartazes, no meio da multidão. Vejo agora que outros, não muito receptivos a esta pressa, usam a expressão irónica de “santo a jacto”.
        Poucos anos já passaram. Ficaram os desejos, ficaram os propósitos de tal notícia aparecer. E apareceu a notícia. No primeiro de Maio haverá solenidade em São Pedro para declarar João Paulo II, Beato da Igreja Universal.
        É o primeiro passo para a declaração de santidade, etapa que, como geralmente se sabe, requer outros complementos, mais comprovativos ainda.
        Como é sabido, a Igreja de Roma cultivou, ao longo dos séculos, uma prática prudente e muito cuidada, na avaliação que faz dos seus servos nas práticas da vida cristã. Que se saiba, tem sido esta a imagem dada ao mundo.
Como já aconteceu recentemente com Madre Teresa de Calcutá, agora um pouco semelhante se verifica: rapidez na avaliação das virtudes excelsas que se exigem no servo de Deus. Têm sido muitos os santos nos últimos tempos.
De uma forma ou outra, aí está o anúncio que deixou muita gente alegre e satisfeita. Já se reservam lugares nos hotéis de Roma para o dia 1 de Maio, pois está prevista uma grande multidão de todo o mundo na praça de São Pedro.
É preciso recuar mais de mil anos para se encontrar um predecessor elevado à glória dos altares pelo seu sucessor. Para exemplo, deixamos o caso do Papa Leão IX (1002-1045) que foi elevado a santo logo após o seu funeral. Não é, pois, caso inédito na História da Igreja.
A grande prova da santidade de João Paulo II é a aclamação universal do povo, que o envolveu em aclamações por todo o mundo. É, como se diz, a grande força. Talvez maior do que o milagre de que agora se fala. “Vox populi, vox Dei” – voz do povo, voz de Deus. Uma forma de capitalizar, ou consagrar as vozes das multidões, que chegam até aos “confins da terra”.
 Neste apontamento, que não é dogmático, mas apenas expositivo, preferimos o argumento que vem do Povo de Deus. É o Povo de Deus que constrói e faz os seus santos, os seus heróis. Sempre assim se disse mas nem sempre assim se fez ou praticou. As paixões de uns e de outros ofuscam por vezes a interacção humana e cristã. Todavia, já é tempo de abandonar o estilo do “religiosamente correcto” e “do cuidado com as palavras”. Quem o diz é Rino Fisichella, Cardeal para a Nova Evangelização. A transparência é sempre o caminho mais seguro, embora nem sempre o mais cómodo.
 O verdadeiro santo é aquele que o povo escolhe. Porque o Povo sabe, melhor do que ninguém, julgar e avaliar os que “ servem sem olhar a quem”.
Com esta avaliação e com a sua autoridade suprema, Bento XVI sancionou e decidiu. Recordando no seu íntimo de Pontífice Máximo da Igreja as palavras do mestre; - “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”; “Tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus; tudo o que desligares na terra será desligado nos céus”; - disse aos homens do seu tempo, aos crentes de hoje que a decisão está tomada: João Paulo II é Beato da Igreja Universal.
 Como curiosidade, será uma beatificação de corpo presente. O ataúde com os restos mortais de João Paulo II será levado para junto do altar. Tudo aponta para mais uma enorme mediatização. A História julgará.
(altodoscedros.blogspot.com)