É o título de um pequeno opúsculo publicado em Angola pela Companhia de Comandos e Serviços do Batalhão de Caçadores 2889 no fim da comissão de serviço, aquando do regresso à Metrópole.
Neste opúsculo de 48 páginas, além de um resumo das actividades desenvolvidas durante dois anos, constam as fotografias de todos os componentes da Companhia daquele Batalhão de Caçadores, formado no quartel de Abrantes.
Coube-me esta unidade militar, após sorteio efectuado no fim do curso de preparação na Academia Militar nos finais de Outubro e já quando o Batalhão havia embarcado para Angola. Acabei por seguir e a ele me juntar no dia 13 de Dezembro de 1969, em Sanza Pombo.
O livrinho atrás citado foi o elo que, durante anos, manteve o afecto humano vivido durante dois anos em Angola. Assim aconteceu na celebração dos 20 anos depois, e assim voltou a acontecer agora. Desta vez, e porque os anos se vão acumulando e a dispersão se acentua, com apenas os sete Alferes de então, a saber: Mário Silva (Santo Tirso), João Maçãs (Portalegre), Frankim Baptista (Leiria), Rui Serrador (Montijo), Fernando Rocha (Braga), Domingos Martins (Porto) e Emílio Porto (Pico), respectivamente e na altura: o Alferes Médico, o Alferes de Reconhecimento, o Alferes de Transmissões, o Alferes de Manutenção, o Alferes de Secretariado, o Alferes dos Sapadores e o Alferes Capelão.
Estes “senhores”, acompanhados das suas respectivas consortes, já todos reformados, resolveram encontrar-se em Santarém, a 12/13 de Março, quase quarenta anos depois. À volta da mesa e dos “descansos de sofá pela tarde fora”, deram largas aos “casos” e “outras histórias” ocorridas, revendo e comentando imagens dos tempos idos.
Deste encontro releio o que então me coube escrever e que se encontra na primeira página do opúsculo atrás citado: “ esta pequena publicação pretende ser, pela vida fora, a continuação dessa amizade, a presença de alguma coisa que passou e que não volta, mas que permanecerá, na construção dum ideal único – construir na retaguarda, um Portugal cada vez melhor.”
“In illo tempore” – anos 60/70 do século passado, tempo de imposições que a mitra decretava, apesar da aceitação sem queixumes pelas fracas migalhas do pão de cada dia – havia também o “à rasca” que hoje se apregoa. Era, então, o “à rasca” de se mandar para a guerra – castigo, e também fuga, para quem contestava, para quem recebia em troca o ultraje do poder instalado. Fora daqui! Traidores!!! Alguns, doutores da lei e algozes de então, ainda hoje se passeiam, altaneiros, pelos corredores das cúrias e dos paços. Como bons exemplares fariseus, mandam as criadas "dar anátemas no jornal da aldeia".
Raimundo, Artur, Benjamim, Arsénio, José Gomes, José Agostinho, Mariano e tantos outros, lá foram, por lá andaram e por lá se ficaram. Aqui os recordo com emoção, olhando os dias traquinas, boémios e "abençoados" da Academia Militar, por entre corridas e palestras castrenses de boa conduta militar e cívica. Era o “à rasca” de tipo inquisitorial: dum lado a espada, do outro a cruz.
Raimundo, Artur, Benjamim, Arsénio, José Gomes, José Agostinho, Mariano e tantos outros, lá foram, por lá andaram e por lá se ficaram. Aqui os recordo com emoção, olhando os dias traquinas, boémios e "abençoados" da Academia Militar, por entre corridas e palestras castrenses de boa conduta militar e cívica. Era o “à rasca” de tipo inquisitorial: dum lado a espada, do outro a cruz.
Todavia, as cantigas eram fortes e de qualidade. Davam ânimo ao futuro desconhecido. Vingaram e o maná nunca faltou, acabando por construir na retaguarda e nos flancos o ideal que sonharam. Há sempre “alguém que resiste”, e há sempre uma nova porta que se abre.
Hoje, tempo de coisas fáceis, de abundâncias topo de gama, uma coisa estranha nos aparece quase incompreensível: apesar de toda a oferta de bem-estar e ao dispor, a mitra manda pedir esmola - é a diocese também à rasca!
Assim sendo, o “à rasca” é outro: é de fracasso. De uma vil tristeza. Sem tino, navega-se ao sabor dos ventos, e engana-se o povo com a ideia falsa de grande serenidade interior. São, como sempre, as aparências tradicionais. Haverá ainda quem acredite?
Assim sendo, o “à rasca” é outro: é de fracasso. De uma vil tristeza. Sem tino, navega-se ao sabor dos ventos, e engana-se o povo com a ideia falsa de grande serenidade interior. São, como sempre, as aparências tradicionais. Haverá ainda quem acredite?
É o que temos. Parece que ninguém aprende com a história. Valha-nos a memória do bom Papa João XXIII, das cantigas do Zeca e do Adriano, mais as do Padre Fanhais e das memórias dos que já partiram, mais as recordações daqueles jovens atrás citados, agora velhotes, companheiros nos matos densos de Angola, lugares que foram de solidariedade, de força e tenacidade.
Quem semeia sempre colhe. É a lição que fica. Porque o “à rasca” será de sempre, sempre de novas formas revestido. Uns compreendem-se, brotam dos fracassos humanos. Outros lastimam-se, brotam das incompetências. Compete-nos a todos fazer a avaliação. Pelos frutos.
Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)