domingo, 31 de julho de 2011

Mais outras novas coisas velhas...

Parecem estar a chegar, ou já vem chegando.
O Cardeal Cañizares, Prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos do Vaticano, anda a recomendar que a comunhão dos fiéis se faça, como antigamente – na boca e de joelhos.
 Tudo indica que será mais uma reconquista de Bento XVI. É uma prática que ele próprio vem implementando, e por isso se admite que depressa será outra norma a recuperar.
 As opiniões e os comentários já se fizeram sentir; não no sentido de uma rejeição total, mas numa aceitação com reservas, já que sempre houve respeito no acto de ser de pé e na mão. Na última Ceia, Cristo não meteu o pão na boca dos Apóstolos, foram estes que lhe pegaram e o tomaram.
Os mais obedientes, escrupulosos e submissos vão aceitar. Vendo diabos em toda parte, vão lançar anátemas aos quatro ventos contra os que não aceitarem.
Outros vão continuar como até aqui. E se o poder for de imposição, serão menos a incomodar.
Cada dia que passa, são dados passos à retaguarda. Todos os dias o castelo é remendado e retocado com mais materiais fora de uso. Remendos para pouca duração.
Hoje em dia, a cal já não se aguenta nas paredes dos edifícios. Hoje usa-se tinta, que é bem mais resistente. Parece que em Roma ninguém pensa nisso. Por onde andará o Espírito Santo? Deve ter fugido para longe!...
Um outro ponto em concreto é a ordem de Ratzinger: “Todos pr’ó confessionário!” A muitos, deu vontade de rir, pois até se julgava que tinha sido abolido, tal a “assiduidade” que se vem notando de algum tempo a esta parte…Móveis vazios, cada vez mais vazios. Lá dentro, ninguém. Fora, muito menos.
A verdade é que os tempos andaram depressa, e muita coisa ficou para trás… Recuperar agora? Não será tarde de mais?
Um confessor da nossa praça dizia, ainda não há muito tempo: “estive aqui duas horas e ninguém apareceu, estão todos santificados”! É bem possível que tenha razão. Estamos todos santificados. A consciência de cada um é que manda. Esta é a imagem que vemos por toda a parte.
Vem aí mais novas velhas coisas… No nosso ponto de vista, podem vir todas e mais algumas. Estão condenadas ao fracasso, porque são remédios fora de prazo, caducos, já não fazem efeito.
escrito na ortografia antiga
altodoscedros.blogspot.com

sábado, 30 de julho de 2011

Estratos de uma carta corajosa

Estimado irmão e Bispo  N.
Não esperava que você, bispo da Diocese de N. embora nomeado contra a vontade e o sentir maioritário dos sacerdotes e de muitos fieis da Comunidade Diocesana, fosse capaz de enfrentar o seu Conselho Presbiteral com uma prepotência e menosprezo sem precedentes, os ofendesse com a análise e valor que fez do processo seguido até hoje na igreja diocesana e o comportamento e papel que nela desempenharam os seus sacerdotes. O modo de pronunciar-se foi inaudito.
        Desejo recordar-lhe que um grupo de sacerdotes da cidade de N. escreveu a propósito da sua nomeação: “A eleição dos bispos, segundo a tradição da Igreja, era feita com a presença e participação de presbíteros, os bispos mais próximos e, sobretudo, do povo cristão, já que era este quem mais e melhor poderia conhecer a conduta do candidato e assim poder aceitá-lo ou repudiá-lo. Este protagonismo do Povo de Deus era considerado de tal importância que se chegava a dizer: “eleger sem povo, é eleger sem contar com Deus”. “Ninguém seja dado como bispo a quem não o quer. Procure-se o desejo e o consentimento do clero, do povo e dos homens públicos”. “Não se imponha ao povo um bispo não desejado”. (São Cipriano, bispo de Cartago).
        É do domínio público como nesse Conselho Presbiteral, você desqualificou, sem nenhum fundamento a conduta teológico pastoral dos seus sacerdotes e comunicou ter decidido transladar os seminaristas para o Seminário de N. sem contar para nada com eles.
        (…) Isto fere a sensibilidade actual com as exigências de diálogo, participação, discernimento na comunidade, respeito dos direitos de todos e mostra ausência das atitudes básicas de todo o cristão: corresponsabilidade, humildade, serviço.
        Você acredita que foi investido de autoridade para proceder assim, mas à luz do Evangelho e da tradição cristã, nós vemos que está em contradição e em desacordo com os princípios e o espírito do Vaticano II.
        (…) Eu espero que os seus propósitos, por muito que neles acredite, não prevaleçam, para o bem de todos e por fidelidade ao mesmo Evangelho. Acreditará que a sua visão é a verdadeira; nós acreditamos que você defende uma interpretação subjectiva, pessoal, com falta de verificação comunitária.
        Não estranhará este meu manifesto, pois não posso entender que a maioria dos seus sacerdotes, com entrega, competência e zelo, que você parece desconhecer, em vez de estimular e apoiar o seu labor pastoral, os desautorize desta maneira perante a igreja inteira. Em muitas ocasiões tive a prova da qualidade e magnífico trabalho destes sacerdotes. (…)
        (…) Peço desculpas pelo meu atrevimento, mas com a idade a que cheguei e com a experiência acumulada, faz-me compreender muito mais os meus irmãos, desculpá-los setenta vezes sete e compreender que não está no juízo nem na condenação o amoroso desígnio do Pai, mas na entrega, na compreensão, na aproximação aos meus irmãos.
        Senhor Bispo, os caminhos que levam ao Pai são infinitos, mas o que nos foi legado é o de Jesus, Filho do Pai, que veio ao mundo para humanizar o homem caído. O Pai foi primeiro para Ele: pô-lo em pé, fazendo-se um de tantos, para estar mais próximo e compartilhar com outros a sua filiação divina e assim tornar-nos participantes do seu amor e ternura.
        (…) Rogo-lhe perdão pela minha ousadia. Não o faço pela minha santidade que não a tenho, mas pelo amor do Pai que desde menina me fez experimentar o seu amor profundo. Ensinaram-me sempre que Deus é Amor; Amor que sai ao meu encontro, me ama, e se entrega por mim. Este é o meu Deus, nele confio e não temerei, porque é a minha força e a minha luz é o Senhor.
        (…) Falei com sinceridade, motivada pela dor e pela indignação de tantos que vem sofrendo nesta porção formosa da nossa igreja. Asseguro-lhe que o faço por amor à igreja, e a si em concreto, de um modo especial pela responsabilidade que tem, pois também é filho e vítima das suas circunstâncias.
                        Com respeito e amor
                (Segue a assinatura de uma senhora de 85 anos))

A explicação que deixo: Tive o cuidado de ocultar os nomes e os lugares, que são europeus. É importante a coragem da autora desta carta – uma senhora de 85 anos. Mais importantes ainda são os conteúdos doutrinais e históricos, sobretudo os que se referem à maneira como eram escolhidos os Bispos. Por isso não resisti em colocá-los aqui.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Falemos claramente...

D. José Policarpo, ainda não há muito tempo, disse, numa entrevista, que “teologicamente não há nenhum obstáculo à ordenação de mulheres”. Acrescentava que, nas circunstâncias actuais, “era melhor não se falar no assunto”.
        Muitos comentadores se referiram às palavras do Cardeal, e as repercussões nos meios eclesiásticos não se fizeram esperar. Ao ponto do mesmo Cardeal, mais tarde, ter vindo esclarecer o que havia dito, quase dando o dito por não dito. Digamos que…terá levado um puxãozinho de orelhas!
        Mas o assunto não morreu e continua activo e actual em meios próximos da Igreja. Com mais intensidade em sectores que já ultrapassaram as normas vigentes, e que se movimentam livremente nas comunidades, com plena aceitação destas, que são, quer se queira quer não se queira, a razão de ser da própria Igreja. Dentro das cúpulas da própria Igreja a questão não tem discussão. Parece ser assunto diabólico…”É melhor não se falar mais nisso!”
        Neste apontamento introduzimos, com oportunidade, a questão da manutenção do celibato como condição para as ordens. É assunto recorrente, e volta a sê-lo de novo, agora com o governo irlandês a acusar o Vaticano de ter encoberto durante anos seguidos os abusos sexuais cometidos por clérigos. Ao ponto de um elemento do Vaticano pedir ao Papa a destituição de todos os bispos irlandeses, e do primeiro ministro irlandês afirmar que não compete ao Papa governar a Irlanda.
Começa assim a intensificar-se a perplexidade dos crentes, em todos os continentes, perante uma lei e a sua prática. Uma espécie de conflito permanente, difícil de compreender, numa instituição que insiste, por um lado, na consciência formada, e por outro, dando flanco aberto a uma condescendência permissiva. “Faz o que eu digo e não faças como eu faço”.
E a perplexidade ainda mais se acentua, quando se procura a solução nos mesmos remédios de sempre: rezar muito, encobrir e nada dizer. Há que salvar a dignidade da instituição, abafando e calando. “É melhor não se falar mais nisso”.
Não é de estranhar, pois, que por melhor juízo que se faça, cada vez se acentua mais a duplicidade de vida por parte de muitos que aceitaram cumprir a lei do celibato.
Por todos os continentes, a paisagem é esta: Uns, todos conservadores, tradicionalistas, integristas, puritanos e pudicos, movem-se pelos corredores das cúrias e dos passos episcopais a excomungar tudo e todos. Outros, liberais, universalistas, humanos, circulam no meio dos povos, ignorando os anátemas, orientando-se e solidarizando-se com os que vivem ao lado, vivendo e sentindo a vida. A única luz que levam consigo a indicar o caminho é a conformidade com os preceitos do Evangelho. Levam o essencial, o mais importante. E dizem que é mais importante a obediência à consciência do que às vozes provenientes das cúrias.
        O Concílio Vaticano II não foi muito longe nos assuntos que envolvem a sexualidade humana. Mas deixou uma norma incontroversa que abre caminho á renovação e ao rejuvenescimento da vida da Igreja: “Toda a forma de discriminação nos direitos fundamentais da pessoa por razão de sexo deve ser vencida e eliminada, por ser contrária ao plano divino”. Esta recomendação está por fazer, e é imperioso que se cumpra.
Durante muitos séculos, houve bispos e padres casados. Até houve papas casados. O casamento nunca foi, por lei divina, obstáculo ao desempenho do ministério.
Hoje, todos sabem, só na Igreja Romana, esta norma é exigida para exercer uma função eclesiástica. Em outras Igrejas reconhecidas essa norma não existe.
        A situação no mundo inteiro é de expectativa e descrédito em reformas. Do Vaticano surgem apelos à continuidade: nem mulheres clérigos nem celibato opcional. Só falta intimidar com a fogueira da inquisição. É melhor não se falar no assunto. É causa fechada.
Apesar de tanta discórdia e de muitas “vergonhas” – são estas normas que conseguem manter o estatuto de grandeza e de poder.
É, afinal, a grande razão: manter o poder de grandeza acumulada pelos séculos. Quando o celibato se tornar opcional e as mulheres forem admitidas ao ministério, quase tudo se desmorona e cai em cacos. É o medo de tudo perder. A Igreja instituição vive cheia de medo.
Joaquin Pereia, bilbaíno, sacerdote e teólogo, na apresentação do seu livro “La jerarquia está usurpando a voz de la Iglesia”, à pergunta se havia mudado alguma coisa na Igreja, respondia assim: “as coisas na vida não são brancas ou negras. São grisalhas. O mesmo na Igreja. Eu creio que em alguns aspectos se avançou, e outros em que se retrocedeu. Parece-me que desde o Concílio Vaticano II se deu a confluência de dois grandes vectores: por um lado, neste momento, para um observador externo, o problema da direcção geral da Igreja que quer voltar aos bastiães antigos, e por isso retrocede, crispa-se, zanga-se, vive do medo e da preocupação por esse medo “laicista e secularista”…Isto é um desastre, porque não leva senão à irrelevância na igreja. E à seita. Ao gueto.”
Como, à irrelevância? Perguntaram de novo. “Isso mesmo, irrelevância. A Igreja, se para alguma coisa existe, é para dizer uma Palavra à sociedade. Mas a sociedade não vai ouvir uma Igreja que diz: “ou passais por aqui, ou não há nada a fazer”. Por isso eu creio que no momento actual muitos cristãos se sentem no escuro. Só ouvem irrelevâncias, assuntos irrelevantes, e por isso debandam…
Mas há que dizer que o Concílio significou um momento extraordinário, que sintetizou o pensamento do Papa João XXIII: “que a Igreja sempre tem de reformar-se, com as janelas abertas ao mundo”.
Quando digo que “outra Igreja é possível”, refiro-me à igreja de Jesus, pois tenho a impressão que esta igreja que temos não é a igreja de Jesus.”
                               ***
Quando aqui chegámos, para dar por terminado este apontamento, tivemos conhecimento do seguinte documento, proveniente de 300 párocos austríacos, com a data do passado dia 19 de Junho:
“Nós, sacerdotes, estabelecemos, no futuro os sinais seguintes:
1 – Rezaremos, no futuro, em todas as missas, uma oração pela reforma da Igreja. Tomaremos a sério a palavra da Bíblia: “Pedi e recebereis”. Diante de Deus, existe a liberdade de expressão.
2 – Não negaremos, em princípio, a Eucaristia aos fiéis de boa vontade. Especialmente aos divorciados com segundo casamento, aos membros de outras igrejas cristãs, e, em alguns casos, também aos católicos que abandonaram a igreja.
3 – Evitaremos celebrar, na medida do possível, aos domingos e dias de festa, mais de uma Missa. É melhor uma liturgia da Palavra organizada localmente que as tounées litúrgicas.
4 – No futuro, consideraremos celebrar uma liturgia da Palavra com distribuição da Comunhão – uma Eucaristia sem sacerdote. Desta forma, cumpriremos a nossa obrigação dominical em tempo de escassez de sacerdotes.
5 – Não cumpriremos a proibição de pregar estabelecida para laicos competentes e qualificados e para professores de religião. Especialmente em tempos difíceis é necessário anunciar a palavra de Deus.
6 – Comprometemo-nos a que cada paróquia tenha a sua própria cabeça responsável: homem ou mulher, casado ou solteiro, a tempo inteiro ou parcial. Não haverá fusões de paróquias, a não ser mediante um novo modelo de sacerdote.
7 – Por isso, vamos aproveitar todas as oportunidades para manifestarmos publicamente a favor da ordenação de mulheres e de pessoas casadas. Vê-los-emos como companheiras e companheiros, bem-vindos ao serviço pastoral.
Sentimo-nos solidários com os companheiros que por se terem casado já não podem exercer as suas funções, e também com aqueles que ainda mantém uma relação contínua prestando serviços como sacerdotes.
Ambos os grupos, com a sua decisão, seguem a sua consciência como nós fazemos com a nossa proposta. Nós vemo-los, assim como ao papa e aos bispos, como nossos irmãos. Não sabemos que mais se possa ou deva exigir à fraternidade. Um só é o nosso Mestre, e todos nós somos irmãos.
É isto o que queremos que suceda, é por isto que queremos rezar. Amen.
Domingo da Trindade, 19 de Junho de 2011.

Finalmente, o meu comentário. Sempre admirei o Cardeal D. José Policarpo. Ainda hoje o admiro. Ainda mais por saber que ele, pessoalmente, também está de acordo com as reformas que muitos proclamam. Só que, no posto em que se encontra, nada mais pode dizer. Disse o que lhe parecia certo. Esqueceu-se que era Cardeal. E levou um puxão de orelhas. Muitos andam calados, cheios de medo também.
Alguns leitores desta área da cultura religiosa, dizem-me: “continua, sempre alguma coisa aparece, sempre alguma coisa se diz”. Acrescento que estou muito longe de outros tempos. Aprendi por mim próprio. Tiro tempo para ler e estar a par do que se diz. E continuo a aprender. Melhor não falar nestes assuntos? Pelo contrário, escrevendo claramente….sem complexos.




sexta-feira, 22 de julho de 2011

Apesar da crise.... a festa há-de fazer-se!

Este meu apontamento já vai fora do tempo. Já lá vai uma festa e as outras já devem ter fechado os programas. Todavia, e por isso mesmo, pode ser mais um motivo de festa. Ele aí vai.
As festas são maiores ou menores conforme as posses. Em tempos de crise, naturalmente que serão menores. Mas mesmo assim, há sempre lugar para uma saída, e para uns laivos de boa disposição. Rir, faz bem e é próprio do ser humano. Ridendo castigat mores, com todo respeito, e sem ofensa, pois não se trata disso.
É verdade que as festas maiores começaram com as festas de Lurdes e respectiva semana dos Baleeiros. Depois estenderam-se pelas outras vilas da Ilha, e mais outras do Arquipélago. Tenho a impressão de que tudo começou pelas Lajes do Pico. Estarei totalmente errado? É o que menos importa saber. Continuemos, então.
        Depois de tanta competição, ou coisa parecida – aparece o apelo à rotatividade, à contenção de gastos, e ao “cada um faça como puder”. Não é que se pressintam grandes contendas. No entanto, nestes casos, uns pós de ironia até suavizam e amansam os ânimos.
Por isso não entro nestes malabarismos complicados. Fico pelo que me parece mais óbvio – cada um faça como pode, sem desperdiçar os apoios dos vizinhos. A ilha, e o Concelho em particular, têm tudo o que é preciso.
        Assim sendo, faço a seguinte análise ao Concelho das Lajes, já que dos outros, por estarmos ultrapassados, não importa fazer qualquer análise. Na verdade, o Concelho das Lajes, dentro das suas fronteiras:
        - Têm Bandas suficientes (São João, Lajes, Santa Bárbara, Ribeiras, Calheta e Piedade), para todos os dias da semana à noite no palco central da Vila;
        - Têm um Grupo Folclórico, para um dia de maior movimento, ou à escolha;
        - Têm uma Orquestra, para uma ou duas noites, à escolha também;
        - Ainda têm um Grupo Coral para uma noite dentro de um salão à escolha;
        - Têm o grupo Trovas do Sul;
        - Têm o grupo “Kádacasa”;
- Têm o grupo de teatro Multieremà;
- Têm várias Marchas, prontas a desfilar;
- Tem grupo de Fados e de “Velhas”;
- Têm talvez muitos mais grupos que não conheço.
- Têm Botes Baleeiros suficientes para a sua Regata habitual (Lajes, São João, Ribeiras, Calheta e Piedade);
Todos estes grupos serão a custo zero. Que mais é preciso?
Um artista famoso? Sei lá… Talvez a artista “Deolinda” que tem uma cantiga que diz: “que parva que eu sou”…; mesmo assim, ia ser caro de mais, e parvos, é o que não falta!!!

Por conseguinte, têm o Concelho motivos para fazer a festa, e contar com o povo como nos anos anteriores. Afinal, o que não faltam são as festas!
O cartaz das festas da Madalena foi dos melhores que já vi: “Uma montanha de festa à tua espera”. Por aqui, essa montanha vai espalhar-se pelas ruas, pelos pátios (temos agora um novo e atraente pátio, ali mesmo perto das portas do mar), e pelas lagoas do mar.
Mas, atenção: uma hipérbole é sempre uma forma enfática de dizer e mediatizar. Esperamos que a Montanha, a verdadeira, com o seu ventre adormecido, se aguente assim como está, e que não se espalhe, como outras que vomitaram nos quatro continentes, impedindo aviões e pessoas de fazerem a sua vida normal. Queremos que ela ali se mantenha, firme, hirta, imponente, a nossa maior maravilha das festas que fazemos.
No campo religioso, suponho que ainda tudo será como dantes. Em épocas de crise, todos são “apanhados”. Até o valor do sermão da festa pode ficar nos pregadores da ilha. Sempre é mais uma ajudinha!
Li, algures, a seguinte afirmação: “Por maior que seja o buraco em que te encontres, sorri, porque, por enquanto, ainda não há terra por cima”.
 Boas Festas para todos, pois uma festa, onde não há lugar à boa disposição, não é festa nem é nada! Vamos todos tornar a festa ainda maior. Todos “pr’ós terreiros”, “pr’às águas da lagoa do mar” e pr’á procissão”!

Já agora, não se esqueçam de passar, no dia 7 de Agosto, pelo Porto da Baixa para provar um caldinho da festa do chicharro, e depois no dia 14 pelo São João Pequenino e no mesmo dia pela Feteira da Calheta na festa da Cabra e da Cavala. São tradições que começam a impor-se. Tudo é festa!
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Como o fermento

Dentro de dias serão as festas tradicionais do Bom Jesus. O texto seguinte, com o título em epígrafe, é de um conceituado teólogo do nosso tempo. O conteúdo poderá estar em sintonia com a mente dos crentes que lá vão. Também poderá ser a chave de abrir a janela para deixar entrar luz mais suave e matizada.

“Com uma audácia desconhecida e inesperada, Jesus surpreendeu toda a gente que o escutava proclamando o que até então nenhum profeta tinha dito: “Deus já está aqui, com a sua força criadora de justiça, abrindo caminho, para fazer a vida dos seus filhos, mais humana e ditosa”.
É necessário mudar. Temos de aprender a viver acreditando nesta Boa Notícia: o reino de Deus está chegando.
Jesus falava com paixão. Muitos sentiam-se atraídos com as suas palavras. Em outros fervilhavam dúvidas. Não será loucura? Donde vem a força de Deus a transformar o mundo? Quem poderá mudar o poderoso império romano?
Um dia Jesus contou uma parábola muito pequena. Tão pequena e simples que muitas vezes passou despercebida dos cristãos. Diz assim: “O reino de Deus é semelhante a uma mulher que tomando a levedura e, misturando-a em três medidas de farinha, consegue fermentar toda a massa.”
Aquela gente simples sabia de que falava. Todos sabiam e tinham visto as suas mães preparar o pão no pátio da casa. Sabiam que a levedura ficava “escondida”, mas não permanecia inactiva. De forma silenciosa e oculta ia fermentando tudo por dentro. Assim é Deus a actuar no interior da vida.
Deus não se impõe a partir de fora, mas a partir de dentro. Não domina com o seu poder, mas atrai com o seu amor para o bem. Não força a liberdade de ninguém, mas dá-se gratuitamente para tornar mais ditosa a vida. Assim temos de actuar também, se quisermos abrir caminhos para o seu reino.
Está a começar um tempo novo para a Igreja. Os cristãos vão ter que aprender a viver em minorias, dentro de uma sociedade secularizada e plural. Em muitos lugares, o futuro do cristianismo dependerá, em boa parte, do nascimento de pequenos grupos de crentes, atraídos pelo evangelho e reunidos à volta de Jesus.
Pouco a pouco, aprenderemos a viver a fé de maneira humilde, sem fazer muito ruído nem dar grandes espectáculos. Já não se cultivará tanto desejo de poder nem de prestígio. Não se gastarão forças em grandes operações de imagem. Buscar-se-á o essencial. Caminhar-se-á na verdade de Jesus.
Seguindo os seus desejos, cada um tratará de viver como “fermento” de vida sã no meio da sociedade. Com um pouco de “sal”, que depressa se desfaz, a vida moderna terá mais sabor evangélico. Virá depois o contágio, o estilo de vida de Jesus a irradiar a força inspiradora do seu Evangelho. O cristão crente passará a vida fazendo o bem. Como Jesus.” (José António Pagola).
 A leitura do texto, apesar de não ser uma tradução exemplar, é compreensiva, está ao alcance de quantos caminham até ao Bom Jesus: – de São Mateus, da Calheta e da Criação Velha. Os comentários serão de cada leitor. Como se impõe.
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quarta-feira, 13 de julho de 2011

No rescaldo da feira...

Só há um caminho a seguir – o nosso, e na companhia dos nossos.
No final da feira, o grupo “Alma de Coimbra” cantou. E terminou o seu canto com o nosso José Ferreira a cantar a Chamateia. No texto desta canção há a quadra seguinte: “Mas no terreiro da vida // o jantar serve de ceia // e mesmo a dor mais sentida // dá lugar à Sapateia”.
        Ora bem. Foi das poucas vezes em que todos os ingredientes se juntaram no mesmo palco com cenário apropriado.
        O nosso caminho está no terreiro da vida. E, embora o jantar já não sirva de ceia, a verdade é que o terreiro continua, e é no terreiro que todos se movimentam e tudo se ajunta.
        Os campos, os nossos campos continuam a chamar. E a dizer a toda gente que são capazes de nos dar aquilo que quisermos. Basta que lhe atiremos umas “mancheias” de sementes e uns punhados de fertilizantes, para logo de seguida nos dizerem: colham, é vosso.
        Os nossos terreiros são dos melhores. Podemos confiar neles porque são de palavra. Nem sempre são planície, pois fazem parte de ilhas vulcânicas, mas mesmo em socalcos, são de garantia.
        Nos nossos campos, os animais encontram o melhor dos ambientes para se desenvolverem, crescerem e darem prazer aos seus criadores. Encontram sustento de qualidade para dar progresso a esta terra, feita de ilhas dispersas.
        Os nossos terreiros, como já foi no passado, são também dos melhores para os produtos hortícolas de ir à mesa do jantar. Em tempos de crise, sempre é bom não esquecer esta vertente. De fora, não vem nada de melhor qualidade. Talvez, umas frutas de climas exóticos e pouco mais.
        Na exposição de produtos, lá estava patente o que acabamos de dizer. Desde os produtos lácteos até aos vinícolas. Do mel aos doces caseiros. Dos livros aos artesanatos.
        A Feira Agrícola Açores foi essencialmente agrícola. Era essa a sua especialidade. E, no nosso ponto de vista, conseguiu os seus objectivos.
        Nós vivemos em ilhas. O terreiro esteve em evidência, por entre os cabeços do Caminho Largo, na freguesia da Piedade. Do outro lado dos cabeços, ficava o mar imenso, a planície dos Açores.
        Na verdade, somos terreiro, mas também somos planície. Esta segunda merece um evento que fale e diga da sua história paralela? Talvez não precise de tanto, pois, todos os dias se fala dos mares, dos pescadores e dos pescados. Quem passa perto dos portos de pesca tem ocasião de ver o que se faz diariamente. Todos os dias, ou com frequência, é a imagem que se vê, aqui bem perto, no pequeno porto – uma espécie de presépio à beira costa plantado.
        Talvez como complemento. Muitos dos que estavam no terreiro também tem um pé nas águas, e talvez tenham saído mais cedo para acudir ao barco que esperava. Faltou isso mesmo: mais qualquer coisa para chamar a atenção dos mares que ficavam para lá dos cabeços. Não foi, todavia, nenhuma pecha. Talvez seja eu mesmo que assim pensei.
        Fica o tema desta crónica – o nosso caminho é este. São os nossos campos e os nossos mares. Na companhia dos nossos. Dos que falam a nossa língua, dos que falam e entendem das mesmas coisas, e fazem a sua vida dentro das mesmas fronteiras – na terra e no mar.
        Em ambos, haverá sempre a dor mais sentida. E haverá sempre lugar para a sapateia. A noite ia calma e ameaçava chuva miúda. Ninguém arredou pé. Foi o que senti, naquela noite de 10 do corrente, na encosta do Cabeço da Era, por entre pinheiros, faias e incensos, ouvindo a Chamateia – ali feito sapateia, vestida de capa e batina.
        Obrigado à Câmara das Lajes por ter “desviado” o grupo “Alma de Coimbra” para aquele lugar, e para aquela ocasião.
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

O espelho da ilha.... e dos Açores

Passámos a 9 e 10 do corrente pelo Matos Souto, onde decorreu a Feira Agrícola dos Açores.
        Além de ter sido ocasião para ver e avistar caras conhecidas, que há muito tempo não via, foi ocasião de olhar para os pontos de interesse que ali se manifestaram durante o tempo que durou a feira.
        Nos concursos, todos eles, mas sobretudo dos animais, assistimos a níveis de qualidade que são de realçar. Só em eventos, como este, é que o público tem ocasião de ver o que estas terras são capazes de produzir, e ao mesmo tempo, conhecer os homens capazes de o conseguir.
        Na verdade, não basta só a terra, a pastagem, a ilha, o verde das campinas, o clima. O mais importante é a capacidade, o saber, o traquejo, a experiência e o empenho, de melhorar a qualidade dos animais e de procurar as melhores raças, a fim de melhorar o produto final.
        Ao percorrer os corredores dos animais, quer de um lado quer do outro, e olhando para a sua identificação, verificámos que havia animais de muitas ilhas, naturalmente com predominância (se errar, não faz mal), para a ilha do Pico, o que não é de estranhar, já que o evento se desenrolava nesta ilha.
        Verificámos também o afecto que se empresta aos animais, não só dos seus tratadores directos, como também das crianças que por ali corriam e saltavam de um lado para o outro. Algumas sentadas, ao lado dos animais mais novos, olhando quem passa, talvez dizendo: “este é meu”. Uma voz feminina dizia claramente: “esta não vendo por dinheiro nenhum”.
        Temos a certeza que as imagens daqueles dias andam por todas as outras ilhas, o que nos faz credores de uma actividade em expansão que importa consolidar cada vez mais.
De referir, e é óbvio, que para além da quantidade, ali se observou uma característica de marca – a qualidade – objectivo que deve acompanhar qualquer actividade do ser humano, nos nossos dias. E o exemplo lá esteve. Bastou percorrer o pavilhão dos produtos expostos, para isso mesmo verificarmos. Hoje, sem qualidade, é melhor estar quieto.
Uma nota louvável para os tempos de crise que atravessamos: a restauração foi entregue a outros, que, ocupando os espaços destinados, lá foram alimentando quem por ali passava e se passeava. Pelo que sei, faltou aviamento na cozinha. Muitos só almoçaram por volta das 15 horas de sábado. De qualquer forma, parabéns aos responsáveis pela feira, e… que voltem para o ano. O espaço está feito, é só ir à arrecadação e montar de novo.
O fim da festa esteve a cargo do grupo “Alma de Coimbra” (antigos orfeonistas de Coimbra), que ali, no meio dos arvoredos, espalharam pelo Caminho Largo e pelas encostas do Cabeço da Era, de cabelos branqueados e com as suas vozes já maduras, as mais belas melodias de sempre da cidade do Mondego e de outros lugares onde se fala português.
Não se esqueceram – não fizesse parte deste grupo o nosso José Ferreira – da Chamateia, um tema que fala do terreiro da vida, ali mesmo bem representado nos arranjos daqueles dias festivos. Faltou o Boi do Mar que ainda não está preparado, revelou o maestro. Esta terra tem dois bois – o boi do mar e o boi da terra. Teria ficado tudo mais completo. Foi um final de festa em cheio.
Uma nota final, relativa ao que lemos, quando chegámos a casa, no sábado à noite, dia 9: “a partir das 13,30 já as sopas, no Campo de São Francisco, em Ponta Delgada, tinham faltado”.
É outro ponto de vista: quem se mete com o Espírito Santo, ou se mete com recta intenção, ou então, não se meta.
Na feira, não houve Espírito Santo e nada faltou. Houve espírito são, primeiro caminho para chegar ao Santo. É melhor deixar o Santo para os que nele acreditam, para as ocasiões acertadas, nunca acomodadas, desvirtuadas. Ninguém chega a santo se não for primeiro são. Para dissipar dúvidas, são vem do latim sanu que significa não estragado, sem defeito. Melhor diria: bom senso.
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sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mais uma vez... o Espírito Santo

Mais uma vez, e sempre, o Espírito Santo. Assim aconteceu, como vem sendo hábito, para o lado das Lajes, na festa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Nos finais de Junho passado, por toda a parte se falou em São Pedro, primeiro Papa da Igreja, e do seu companheiro, pregador da fé aos gentios.
Nos tempos recuados da sua presença física no mundo, andaram misturados com as gentes do seu tempo – vestidos como os demais. No seu íntimo possuíam a chama viva do Espírito Santo, uma diferença que não se via nem se entendia, uma força estranha.
Foi com o seu exemplo de firmeza, e fé da força do Espírito que evangelizaram. Os “gentios” de então viram e testemunharam: “vede como eles se amam”. Neles não havia segregação, não eram nem faziam parte de uma classe à parte.
Eram homens de fé, no meio de outros homens e mulheres, uns solteiros, outros casados. Pedro também era casado. Faziam comunidades que acreditavam em Jesus. O seu apostolado foi esse mesmo – fazer comunidades em espírito e verdade. Sem segregações.
Tudo isso foi cimentado pela acção do Espírito Santo que habitava no coração dos que se iam juntando. O “Espírito Santo sopra onde quer e como quer, sem olhar a pessoas”.
Neste final de Junho lembraram-se os primeiros passos da Igreja sem regras, nem cânones escritos, apenas guiada pela acção do Espírito.
Felizmente que nesta terra, se colocou a festa do Espírito ao lado da festa de São Pedro. Sabemos das circunstâncias históricas dessa mudança. Hoje dizemos que foi a melhor forma de prestar homenagem ao primeiro Papa da Igreja. Porquê? Porque, acima de tudo e de todos está a acção do Santo Espírito.
 Antes da exaltação ao sucessor de Pedro, importa a exaltação ao Espírito. O primeiro é humano, o segundo é transcendente, e está em qualquer homem de boa vontade. Ao longo dos tempos, foi o ser humano a causa de muitos males e desvios dentro da própria Igreja. O papado não se livra de muitos períodos negros, mesmo que se arrogue ser o legítimo representante de Deus na terra. E de muitos desajustamentos ainda hoje. Os maiores males da Igreja ocorreram sempre no seio dos poderes instituídos. Ao contrário, sempre brilhou a força do Espírito, no Povo Santo de Deus.
Junho terminou, mais uma vez, com a força do Espírito Santo no meio de nós. Não só nas Lajes, mas também na Baixa, e daqui a dias na Almagreira, ou em outros lugares por essa ilha toda.
São sinais da presença do Espírito, a imprimir alma e vida às outras festas. São sinais cristãos, inspirados na fé, e não em imposições desprovidas de sentido.
São sinais de alegria para dar e partilhar, cumprimentos afectuosos, um “bom dia” ou uma “boa tarde”, cheia dos sentimentos tradicionais que nos caracterizam.
Estou em crer que são fruto da vontade de participar. Hoje isso é notório. Por toda a parte. A religiosidade popular é assim: aparece por si, sem regras fixas e rijas. O acto de participar não obedece a conceitos prefabricados nem a indicações paroquiais ou episcopais. Brota por si mesmo. É fruto do Espírito. Deus não precisa de invocações buriladas para dizer o que quer e deseja. Basta-lhe a simplicidade da alma que escolhe para realizar a sua acção benfazeja.
Não levará muito tempo, é a nossa opinião, e esses mesmos sinais poderão estender-se a outras festas. Serão os povos que o farão. Sempre eles na dianteira.
Anselmo Borges, conceituado teólogo português, publica um interessante artigo no jornal de Notícias de 25 de Junho sobre “As sopas do Espírito Santo”. A certa altura diz ele assim:
“Houve sempre, ao longo da história da Igreja, um conflito entre os que acentuam o lado visível, institucional, hierárquico, e os que sobrepõem à Igreja visível uma igreja espiritual, carismática, fraterna. Os franciscanos “espirituais” – fraticelli (irmãozinhos) –, desgostosos com os Papas que abafavam o Espírito, aderiram à inspiração carismática, espírito-santista do monge Joaquim de Fiore (século XII), que dizia estar o mundo dividido em três idades: a idade do Pai ou da lei, que é a idade do medo e da servidão; a idade do Filho, que é a idade da submissão filial; e a idade do Espírito Santo, que é a idade do Amor, da Liberdade e da Fraternidade.”
À luz destas palavras, eu diria que estamos na terceira idade, na idade do Espírito contra a arrogância e a prepotência do poder absoluto que só afasta e não atrai.
Que diria este teólogo português se, daqui a dias, visse esse mesmo Espírito Santo espalhado pelas ruas de Ponta Delgada por motivos políticos e de promoção turística, perante 12.000 sopas?
 Seria de novo “Constantino”, agora feito "Mordoma", a cobrar o fruto da liberdade concedida, satisfazendo assim as tropas com pão e circo?
Que dirão os crentes e as irmandades - já não digo o responsável máximo, porque não existe - quando o Espírito Santo é usado para fins puramente folclóricos e políticos? Não sabemos.
Mais uma vez o Espírito Santo... Pelos piores motivos!Gostaríamos de saber a resposta do conhecido teólogo. Como também gostaríamos de saber o que dizem os teólogos do Santo Ofício.
-Texto escrito na ortografia antiga.
-altodoscedros.blogspot.com




quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mete-se pelos olhos dentro....

O Concílio Vaticano II é claro, bastante claro mesmo, quando trata do papel dos leigos na Igreja Católica. Muitos trabalhos poderão eles fazer, com eficiência e competência, sem adulterar o depósito da fé, sem afrontar a autoridade, a doutrina social da Igreja, nem o santo Povo de Deus. Com a mais segura das garantias.
        Não vamos aqui especificar muitas das tarefas que poderão eles desempenhar. O texto conciliar dá liberdade suficiente, para, caso a caso, se optar por aquela que for julgada mais razoável, consistente e oportuna.
Por esse mundo fora, encontramos, com frequência, homens e mulheres à frente dos destinos dos jornais, revistas e outros meios de comunicação social da Igreja Católica. Geralmente são leigos os nomeados ou escolhidos para os jornais, para as rádios e as televisões. Nem padres nem bispos se vêem por lá. Apenas e só poderão ter e deverão ter responsabilidades de supervisão, tarefas bem comedidas e de pura retaguarda. A eles compete-lhes outras tarefas mais específicas – aquelas directamente relacionadas com a acção litúrgica da Igreja.
        Temos exemplos aqui nas ilhas a não repetir, e muito menos a dar continuidade a outras anacrónicas.
Começamos por estranhar uma nomeação já anunciada para o jornal A União, um jornal que tem uma bonita história para a Igreja e para os Açores.
Se na história passada, foram seus directores, homens sacerdotes de prestígio e das letras, os condicionalismos, hoje, são outros, o caminho terá de ser outro. Nos dias que correm, e à luz do Vaticano II e dos condicionalismos actuais, não faz nenhum sentido continuar a ser da responsabilidade directa de um director eclesiástico. Porquê? Porque aos eclesiásticos competem outras tarefas, e porque hoje as competências estão mais do lado dos leigos do que daqueles que saem dos seminários, ao contrário do que acontecia antigamente. Os exemplos estão à vista de todos.
Se a razão desta mudança é política, então estamos perante o sarcasmo e o afronto ao respeito para com todos os que ainda acreditam. Os crentes estão espalhados por toda a parte. Cada um opta livremente. Escolhe livremente. À Igreja compete reconhecer esse direito e nunca dar a ideia de favorecer este ou aquele grupo. Também por aqui se alimenta o descrédito.
Finalmente, estranha-se que Angra ande a passar por carestia de homens e mulheres, católicos de confiança e de saber, para assumir a responsabilidade do jornal A União. Angra, que sempre foi forte nos leigos que tinha no seu seio, anda hoje deficitária? Sinceramente, não acreditamos.
Por estas bandas, ainda nos recordamos do fim do Correio da Horta. Que, quer se queira quer não se queira, o seu fim foi da responsabilidade dos eclesiásticos, e não dos leigos que por lá andaram.
De “O Dever” só lamentamos a reviravolta de 2003, que – recuando no tempo, abandonando uma orientação conciliar de provas dadas – não trouxe qualidade nem algo que se pareça. Os mesmos problemas se colocam.
Os responsáveis, ou o grande responsável, que entenda. Tudo isto se mete pelos olhos dentro.
Sabemos que tudo é relativo e ouvimos com frequência apelos ao que temos: “sempre é melhor ter do que nada ter”. É uma conformidade doentia, confesso, mas contra ela só o Espírito Santo poderá trazer a cura.
altodoscedros.blogspot.com
texto escrito no acordo antigo
       

       

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Crónica sanjoanina

Dois dedos de conversa aconteceram, numa noite de São João. Noite serena, à beira da tasca, bem surtida e bem apetitosa. Muita gente, por ali à volta, na conversa amena. Uns atentos, outros distraídos, e outros mirando.
Familiares e amigos ali se encontraram, fortuitamente. Logo surgiram, de imediato, dois dedos de conversa, enquanto a marcha se divertia e fazia divertir. Uma marcha feita de todas as idades. Porque assim é que deve ser: a comunidade inteira participa.
        Enquanto as companheiras se divertiam com as suas novidades – sempre novas e sempre velhas – ficavam os companheiros a desbobinar também coisas velhas e novas, estas mais específicas e singulares, quase todas das áreas castrenses, e também, as muito específicas do reino dos castos.
Ninguém pode estranhar. Os percursos, embora diversos no tempo e no espaço, foram semelhantes – na freguesia, na guerra e na dispensa do santo ofício.
São poucos, mas ainda são alguns, os que, no fim da vida, se podem orgulhar de ter recebido os sete sacramentos da Santa Madre Igreja! Por isso, serão gloriosos, com direito ao melhor dos melhores tronos dos reinos celestiais, rodeados de anjos e arcanjos, querubins e serafins!
As histórias da guerra são sempre as mais marcantes, mais solidárias, e por isso, paradoxalmente, as mais humanas e cristãs.
Foram “castigo” da mitra, exclusão forçada. Depressa se transformaram em humanidade salvadora, antítese do reino que ficou para trás, lugar de podridão e mentira. Que, como ontem, hoje e cada vez mais, parece continuar a sê-lo.
 Nada muda. Tudo parece ser igual. Mas as evidências ou consequências vêm sempre ao de cima. Já dizia o velho chanceler da cúria: “são poucos os que não molham o prego”.
É na dificuldade, na luta pela sobrevivência que os laços humanos mais se fazem sentir e deixam marcas para sempre. A solidariedade só aparece no meio da desgraça e do abandono; vem sempre de outros que andam longe, dos quais menos se espera; os mais próximos fogem, como Pedro. Quando todos estão bem, não se fala em solidariedade. Que se arranje e que passe bem!
Porém, passadas as horas difíceis, as guerras, os abandonos, e encontrados os tempos mansos e estáveis, geralmente vem a mesma tentação: que se arranjem os algozes de antanho, e que passem bem.
As histórias acabam por ser repetidas pela vida fora, perante os que passam e os que vem depois. Repetidas e aumentadas, porque os fregueses pouco mudam e passam de geração em geração o que sempre fizeram e dizem. E deixam sempre a sua marca. Quem conta um conto acrescenta um ponto. Os comportamentos não mudam facilmente.

Ficaram as histórias do professor Pisca-pisca, do Presidente Amaro, da tia Maria da Ribeira. E também – é bom não esquecer – as histórias do Reitor e do Monsenhor.
Do professor Pisca-pisca que vigiava o padre, e vigiava a mulher, quando esta ia para a igreja. Do Presidente Amaro que exigia ser consultado quanto à procissão do padroeiro. Da tia Maria da Ribeira, que exigia saber qual era a opinião do padre sobre os jarros das flores do altar.
Do Reitor, que recebia mensagens diárias, de comportamentos desviantes, e de práticas antes nunca experimentadas.
Do Monsenhor, que controlava a modernidade doutrinal. De ambos, trocando mensagens entre si, levadas e trazidas por informadoras piedosas e assíduas às novenas das almas.

Da guerra, ficaram os encontros com homens, carregados de problemas familiares, de bebedeiras frequentes, de ausências prolongadas, de doentes, mutilados, e mortos enviados em caixões de chumbo.
Do Tenente-Coronel, Comandante, que todos os dias se embebedava e chorava pela mulher que lhe tinha falecido, vítima de cancro no seio, mais do filho, metido pela droga.
 Do Major, Segundo Comandante, que, com feridos à sua volta, aos berros, dizia: “lá por morrer uma andorinha não acaba a Primavera”; valendo-lhe, da reacção furiosa e imediata, correr depressa para o quarto!!!
Das chuvas e da seca prolongada que condicionava o tempo de paz e o tempo de guerra, ficaram recordações, lembranças de solidariedade, nunca sentidas antes nos corredores dos paços, das cúrias e dos passais.

A noite sanjoanina já ia longa. Era tempo de dispersar. Outras ocasiões virão, e outras histórias se hão-de contar. E os blogs poderão registar.
Que belas estavam as iscas de atum e as lulas guisadas!...Até daqui a dias.
altodoscedros.blogspot.com
texto escrito na ortografia antiga