quarta-feira, 6 de julho de 2011

Mete-se pelos olhos dentro....

O Concílio Vaticano II é claro, bastante claro mesmo, quando trata do papel dos leigos na Igreja Católica. Muitos trabalhos poderão eles fazer, com eficiência e competência, sem adulterar o depósito da fé, sem afrontar a autoridade, a doutrina social da Igreja, nem o santo Povo de Deus. Com a mais segura das garantias.
        Não vamos aqui especificar muitas das tarefas que poderão eles desempenhar. O texto conciliar dá liberdade suficiente, para, caso a caso, se optar por aquela que for julgada mais razoável, consistente e oportuna.
Por esse mundo fora, encontramos, com frequência, homens e mulheres à frente dos destinos dos jornais, revistas e outros meios de comunicação social da Igreja Católica. Geralmente são leigos os nomeados ou escolhidos para os jornais, para as rádios e as televisões. Nem padres nem bispos se vêem por lá. Apenas e só poderão ter e deverão ter responsabilidades de supervisão, tarefas bem comedidas e de pura retaguarda. A eles compete-lhes outras tarefas mais específicas – aquelas directamente relacionadas com a acção litúrgica da Igreja.
        Temos exemplos aqui nas ilhas a não repetir, e muito menos a dar continuidade a outras anacrónicas.
Começamos por estranhar uma nomeação já anunciada para o jornal A União, um jornal que tem uma bonita história para a Igreja e para os Açores.
Se na história passada, foram seus directores, homens sacerdotes de prestígio e das letras, os condicionalismos, hoje, são outros, o caminho terá de ser outro. Nos dias que correm, e à luz do Vaticano II e dos condicionalismos actuais, não faz nenhum sentido continuar a ser da responsabilidade directa de um director eclesiástico. Porquê? Porque aos eclesiásticos competem outras tarefas, e porque hoje as competências estão mais do lado dos leigos do que daqueles que saem dos seminários, ao contrário do que acontecia antigamente. Os exemplos estão à vista de todos.
Se a razão desta mudança é política, então estamos perante o sarcasmo e o afronto ao respeito para com todos os que ainda acreditam. Os crentes estão espalhados por toda a parte. Cada um opta livremente. Escolhe livremente. À Igreja compete reconhecer esse direito e nunca dar a ideia de favorecer este ou aquele grupo. Também por aqui se alimenta o descrédito.
Finalmente, estranha-se que Angra ande a passar por carestia de homens e mulheres, católicos de confiança e de saber, para assumir a responsabilidade do jornal A União. Angra, que sempre foi forte nos leigos que tinha no seu seio, anda hoje deficitária? Sinceramente, não acreditamos.
Por estas bandas, ainda nos recordamos do fim do Correio da Horta. Que, quer se queira quer não se queira, o seu fim foi da responsabilidade dos eclesiásticos, e não dos leigos que por lá andaram.
De “O Dever” só lamentamos a reviravolta de 2003, que – recuando no tempo, abandonando uma orientação conciliar de provas dadas – não trouxe qualidade nem algo que se pareça. Os mesmos problemas se colocam.
Os responsáveis, ou o grande responsável, que entenda. Tudo isto se mete pelos olhos dentro.
Sabemos que tudo é relativo e ouvimos com frequência apelos ao que temos: “sempre é melhor ter do que nada ter”. É uma conformidade doentia, confesso, mas contra ela só o Espírito Santo poderá trazer a cura.
altodoscedros.blogspot.com
texto escrito no acordo antigo