A Filarmónica que primeiro vi e ouvi na minha vida foi a “música da Piedade”, dirigida, suponho eu, pelo senhor Manuel Racha e depois pelo saudoso Padre Francisco Soares. Foi na festa de São Pedro, na Baixa, num palco improvisado, feito de estacas e restos de tábuas de pinho, num curral de vinha, onde hoje se situa o Salão “Ninho de Águia”.
Tinha acabado de nascer a Filarmónica. Tinha poucos anos. Dava os primeiros passos. Já lá vão uns anos acrescentados. Por volta de 1946/47?
Agora, percorridos estes anos todos, chegou o dia da mesma Sociedade Filarmónica inaugurar a sua sede social, lugar condigno, correspondente à qualidade que hoje manifesta nas suas actuações.
Começo por este pormenor, por me parecer o mais adequado num acontecimento desta natureza. Qualquer trabalho merece sempre ser recompensado. Aqui aplica-se o princípio.
A Filarmónica da Piedade tem demonstrado qualidade nos seus trabalhos musicais. Isso deve-se ao empenho dos seus músicos que procuram aperfeiçoar-se. Muitos jovens, vejo-os lá bem encaixados, atentos e compenetrados do seu específico trabalho.
Esta inauguração vem premiar o trabalho feito e proporcionar melhores condições para se procurar o aperfeiçoamento que hoje todos apreciam. Porque, é bom recordar, todos hoje procuram isso mesmo – melhor qualidade. E a cultura é uma vertente muito sensível, que se revela, sobretudo, pela qualidade que apresenta.
Destaco nesta inauguração a presença da Orquestra Sinfónica Juvenil de Lisboa. Pelo apelo que fez aos jovens para a boa música, a música erudita, a música de qualidade. E sobretudo pelos novos horizontes que podem motivar os jovens na carreira musical. Seria imperdoável não aproveitar este agrupamento para “apadrinhar” a festa da nova sede social.
Todavia, o que se diz do músico, também se diz do público. Os grupos musicais existem para serem ouvidos atentamente. Cabe neste apontamento uma palavra de amor para os que se dedicam á música – querem ser ouvidos com atenção.
Do público também se exige qualidade. O músico faz uma preparação intensa, para poder corresponder com a melhor qualidade possível. O público mais não fará do que responder também com qualidade. Como?
Ouvindo em silêncio absoluto. É um sinal de respeito por quantos se esforçam por apresentar um bom produto. Em música é assim, e não pode ser de outra forma.
Se nos arraiais o público troca impressões, conversa, grita, ninguém estranhará. Mas numa sala, ou num salão, o mesmo não acontece. Nem os telemóveis se permitem.
As Bandas são uma das melhores imagens do povo. Pela forma como se apresentam, pela qualidade musical que conseguem, pela atenção que lhe prestam, pela apresentação e arrumo da sua Sede Social. Uma Banda é o espelho de uma comunidade.
Convém destacar, neste apontamento, as outras valências do novo edifício. Que se estendem para outros horizontes sociais da freguesia, como sejam as festas de maior movimento de pessoas – as festas do Espírito Santo.
Nesta festa esperava encontrar mais público. Talvez por não ter sido escolhido o melhor dia, talvez por isso.
Aos poucos vamos construindo o futuro. Esperemos que as “crises”, que sempre hão-de vir, não façam abrandar a concretização de novos sonhos, nem façam morrer o que muito custou a construir.
Parabéns à “música da Piedade”. Parabéns a toda a freguesia desta Ponta da Ilha, que suporta a “União Musical da Piedade”. Parabéns à ilha inteira.
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texto escrito na ortografia antiga