A Ribeirinha do Pico assenta a sua História no espaço físico entre a rocha alta e baixa, e o interior montanhoso, numa extensão de cerca de um quilómetro, toda virada para a ilha em frente, São Jorge, e a três quilómetros da freguesia da Piedade. Compreende uma zona mais alta – a freguesia da Ribeirinha propriamente dita, e uma zona mais baixa, de veraneio – a Baixa.
Os povos que a habitaram foram buscar o sustento à terra que lavraram, mondaram, desbastaram, juntando pedras, fazendo maroiços, paredes, bardos de abrigo. Das zonas baixas até ao monte mais alto cultivaram vinhas, milho, trigo e outros cereais. Nos espaços mais reduzidos fizeram batatas, inhames, feijão e outros primores de ir à mesa.
Dos animais domésticos fizeram a força motriz para a lavra e o transporte. Deles retiraram o sustento: o leite e o queijo. Da ovelha, a lã para o agasalho. Dos suínos tiraram a carne e a gordura. Fizeram enchidos e fumeiros, condutos para o inhame da meia encosta.
Estenderam a matéria-prima do leite das vacas, à indústria de produtos lácteos. Construíram por isso sociedades de produção de manteiga que exportavam para o Continente. Fazem parte desse conjunto de indústrias, hoje desaparecidas, os Irmãos São João, no Paul do Juncal, o Francisco Terra nos matos da Lagoa, os Fragas e a Cooperativa na Estrada Regional. Hoje, só restam as ruínas dos espaços utilizados, e algum documento perdido nas gavetas de alguns familiares.
Aproveitaram a energia do vento para os moinhos de moer. Como não eram suficientes, e nem todos podiam pagar a moenda, muitas foram as atafonas movidas pela força dos mansos bois de lavrar. Moinhos e atafonas fazem parte, hoje, das memórias. Só ruínas e destroços.
Dos mais hábeis e destemidos, nasceram as profissões. Na pedra, foram mestres. Exemplos ainda existem, espalhados pelo casario. A Igreja Paroquial e a antiga Escola e Casa do Espírito Santo, esta com data de 1895, são exemplos. Outros, infelizmente, acabaram no entulho do lixo que não serve. Estenderam a arte por terras vizinhas e pela ilha de São Jorge onde por lá chegavam a estar semanas e meses na construção de casas. Uma delas foi a Igreja de São Tomé, para os lados do Topo, destruída pela crise sísmica de 1980.
Das peles dos animais fizeram o calçado – as albarcas. E do cedro, fizeram as galochas. Veio o sapateiro e agasalhou os mais abastados. Vieram outros e mais outros. Alguns assentaram profissão em terras vizinhas.
Com a madeira cobriram os tectos de abrigar as casas. Os Janeiros, mestres da serra de braçal, da enchó e do machado, fizeram rodas dentadas para moinhos e atafonas; fizeram cangas e “canzis”, arados e carros de bois, cangalhas para burros e bestas.
Manuel Homem dos Cedros, estudioso atento, autodidacta assumido, pronto para o chiste e para a sátira, odiado por uns e amado por outros, foi o artista da mobília encomendada para o casamento. Os polimentos, a verniz de boneca, eram limpos, brilhantes, sem mácula. Era assim que ele exigia aos aprendizes que por lá passaram.
Sempre trabalhou na sua oficina, sita no largo do Império. Lá desenhava e executava. Lá instalou, com a ajuda de um motor a gasóleo, um sistema de roldanas multiplicadoras para fazer rodar a serra, a plaina e o cantil, a altas velocidades.
Foram as primeiras iniciativas, na ilha, para modernizar a carpintaria. Foi o professor de outros que deram continuidade à arte da madeira, agora, com outros meios mais sofisticados, movidos pela força da energia eléctrica que acabou por chegar a todas as casas. Manuel e Raul Lourenço (já falecidos), José Porto , Manuel Lino e Manuel Júlio deram continuidade ao mestre.(Continua)
Escrito na ortografia antiga