domingo, 26 de junho de 2011

São Pedro... é na Baixa

Sim! Na Baixa!
Tenho toda a razão, a minha, para o dizer. Tal como teve quem escreveu, e eu li noutro lugar, assim: “o Espírito Santo é no Pico”!
Assim começo, e vamos por partes.
        São Pedro – primeiro Papa da Igreja – é um santo popular. Adquiriu popularidade para estas bandas. Tal como São João e menos Santo António. As popularidades não são iguais em toda a parte. São mais intensas ou menos intensas consoante as apetências dos devotos e devotas, e as histórias milagreiras avançadas pelos pregadores de tempos idos. Tempos em que era mais fácil adquirir fé. Ora vejam.
        São conhecidos os modos antigos de angariar fundos para sustento da paróquia. Entidades autónomas, próximas umas das outras, viviam à custa dos fregueses. Nem sempre as orientações eram bem aceites, mas em tempos isolados, de muita carestia, os contágios mais liberais não impediram a fé e a crença no santo que o pregador apontava. E a afluência numerosa acabou por impor-se. Tanto dos fregueses menos fervorosos, como dos outros vizinhos mais próximos.
Foram estratégias levadas a cabo no sentido de melhorar a vida paroquial. Em tempos difíceis, a fé também dava alguma coisa para manter a vida. “Quem trabalha no altar, vive do altar”. As festas, muitas delas, assim se foram implantando, e se estenderam às mais recônditas ermidas e ermidinhas ao longo da costa.
Assim se compreendem as “romarias” para São Pedro da Baixa, para São João do Calhau, e outras que aconteceram por toda a ilha. São Pedro, o da Baixa, foi sempre ponto de encontro dos povos da Ponta da Ilha, desde a Calheta pelo sul, depois Piedade e Santo Amaro já pelo norte. Sem esquecer São Jorge em frente.
       
        Não afasto a ideia de que hoje se vai à festa pela fé que se tem. Fiquem tranquilos os fiscais do santo ofício! Acredito que muitos lá vão por esse motivo e até levam as suas oferendas para arrematação. Mas não é a fé o grande motivo de ir à festa, ou de ir ao Calhau, nem de ir a mais longe. É mais o hábito, o costume, o ver amigos, o convívio, ouvir a banda ou bailar a chamarrita pela tarde e noite dentro.
        E também – é bom não esquecer – a visita ao amigo que está na adega, que tem preparada a melhor ementa da festa para oferecer a quem aparece. As novidades da horta da adega, o peixe ali ao lado pescado, os molhos de salsa crua, as saladas frescas colhidas e lavadas na altura, são do melhor que se apresenta.
        Hoje, as próprias pessoas reinventam a própria festa. Os crentes e não crentes, com mais ou menos espírito criativo, não esperam por indicações episcopais nem ouvidoriais, e lá aparecem com os seus açafates de mini rosquilhas, que distribuem a quem passa, lá para os fins da tarde. São inspirações do “divino”, aprendidas pelo Espírito Santo que é de todos, formas de participação na festa que herdaram e desejam manter viva.
        As festas do Espírito Santo são as maiores dos Açores. As que mais se vêem e se praticam. Fazem parte da nossa identidade. Nada mais natural do que levar um pouco do seu “espírito” para outra qualquer festa. O “arrelique” da mini rosquilha ou mini véspera é um sinal da presença do Espírito Santo. Uma mensagem que se leva para junto da família.
        São Pedro, o da Baixa, não afronta outras festas. Nem outras “novas” que vão acontecendo, como acabo de verificar. Até as saúda, e que venham para ficar. Mas, por enquanto…é na Baixa!
-altodoscedros.blogspot.com
-texto escrito na ortografia antiga