sábado, 17 de setembro de 2011

ALAMANAQUE DO PICO... barómetro do Triângulo

                Novamente recebi em casa o livrinho do senhor Manuel do Rosário, que, por suas mãos, ou por um portador, deixou na caixa do correio. Por isso, o meu muito obrigado.
        Costuma dizer-se que os almanaques servem para dispor bem. Por entre verdades consagradas, sempre se dizem meias verdades, algumas anedotas e fazem-se previsões que geralmente, ou nunca acertam ou então ficam-se pela metade. Por vezes também se dizem novidades e se dá lugar à criatividade.
O adágio de “ser de almanaque” está aqui neste livrinho muito bem expresso. Basta estar atento. Espero que esta crónica também assim seja entendida pelo autor e leitores de: “crónica de almanaque”.
        Começando pelo princípio, ficamos a saber que o ano 2012 vai ser bissexto e que começa ao Domingo, e que por isso vai ser um ano de “alguma animação”. Fiquei satisfeito por esta primeira previsão. Andamos todos com necessidade de mais ânimo e melhor ânimo.
        Os domingos começam por ser do Tempo Comum, depois são da Quaresma, Depois da Páscoa e Depois do Espírito Santo. No Advento além de 4 domingos há mais o 5º domingo, que não sei se já tem o nihil obstat de Bento XVI. Mas também não importa, pois há muita coisa que se faz e pratica sem ter a aprovação papal, e ninguém vai para o inferno por causa disso. Cuidado, todavia, por cuasa da censura do "santo ofíco" que, por vezes, aparece bem disfarçado nas costas do norte da ilha! E também pelo sul lançando impropérios contra o vento!
        A “6 de Agosto comemora-se os 150 anos da devoção ao Bom Jesus de São Mateus do Pico, e 50 anos do Cardinalato de D. José da Costa Nunes”. Aqui, a previsão é minha: os santos padroeiros da ilha, quais romeiros de longe vão ir à Procissão do Bom Jesus. É uma previsão “de almanaque”, feita, neste caso, pelo cronista.
        Quanto aos santos padroeiros, pouco se indica. Sendo um guia para usos e costumes das ilhas do triângulo, falta mais qualquer coisa. Um exemplo, logo em Janeiro: 15 de Janeiro, Santo Amaro – festa do Padroeiro na freguesia de Santo Amaro; 17 de Janeiro – Santo Antão – festa do Padroeiro na Ribeirinha; 20 de Janeiro – São Sebastião – festa do Padroeiro na Calheta do Nesquim. E assim sucessivamente à volta das ilhas do triângulo.
        No campo das adivinhas transcrevo a primeira: “qual é a diferença entre o vinho verdelho do Pico e o 25 de Abril?” Confesso que não adivinhei e fui ver: “o verdelho quanto mais velho melhor, o 25 de Abril quanto mais velho pior”. Nem toda a gente vai gostar que se diga, mas… os que gostam do verdelho vão dizer que sim, os amantes da política vão dizer que não. A verdade é que as datas acabam por serem esquecidas, o vinho renasce todos os anos. “Longe da vista, longe do coração”.
        Nos provérbios escolho o seguinte: “Julho por excelência é o melhor porto dos Açores”. Confesso que andei com a cabeça à roda e não consegui entender. Mas é assim mesmo: ou é de almanaque ou já começo a ficar velho, o que é capaz de ser o mais certo.
        Quanto a datas históricas, confesso que não estou a ver o Convento de Mafra ligado ao século XIII. Estou em crer que lhe falta ali o algarismo romano V, cinco. Será também de almanaque? Neste caso, não creio, pode ser até uma errata, o que também se admite, e até fica bem, numa publicação deste género.
        Para finalizar, a melhor verdade deste almanaque está em uma quadra de Luís G. Rosa que diz assim:
       
“Se produzir e poupar
        Faz bom governo no mundo;
        Não produzir e estragar
        Leva os países ao fundo”.
        É caso para dizer: se os nossos homens das finanças publicas assim pensassem…Mas a verdade é que não ligam ao Almanaque, não o lêem. Se o lessem sabiam como fazer! E voltando atrás em relação às previsões, mais uma que paira já no ar: o Papa, à semelhança dos tempos medievais que aprovava a criação de nações, vila e aldeias, prepara-se para extinguir algumas autarquias! As bulas já estão anunciadas. Pelo menos em rascunho.
E pronto. Foi a minha leitura parcial. O resto é para se ir lendo ao longo do ano, ver as luas, as sementeiras, as festas móveis e outras curiosidades da tradição. O tempo, esse, quase nunca bate certo. Anda todo descontrolado, mas as imagens do Pico que são prenúncio de bom ou mau tempo, aqui se encontram. Foi a Montanha o nosso primeiro barómetro, e ela é vista pelas três ilhas. É uma questão de fé.
        Como sempre ouvimos dizer: “a fé é que nos salva”. Obrigado ao senhor Manuel do Rosário, desejando boas vendas. Comprando o Almanaque do Pico, estamos a consumir o que é feito nos Açores. Uma boa norma, em falta, no Juízo do Ano. E uma forma da "coisa se ir tornando menos preta".
escrito na ortografia antiga
altodoscedros.blogspot.com