segunda-feira, 26 de setembro de 2011

BENTO XVI na Alemanha

“Na Alemanha, a Igreja está optimamente organizada. Mas, por detrás das estruturas, por ventura existe também a correlativa força espiritual, a força da fé de um Deus vivo? Sinceramente devemos afirmar que se verifica um excedente das estruturas em relação ao Espírito. Digo mais: a verdadeira crise da Igreja no mundo ocidental é uma crise de fé. Se não chegarmos a uma verdadeira renovação da fé, qualquer reforma estrutural permanecerá ineficaz”. São palavras do Papa. O sublinhado é nosso.

Aqui ousamos tombar o nosso isolado comentário:
Uma visão global dos fenómenos religiosos, quanto à prática cristã dos crentes e seguidores da Igreja Romana, na Europa e também em Portugal e suas ilhas, leva a esta conclusão – falta de fé, ou talvez uma prática de fé titubeante.
 Todavia, temos de procurar ir ao encontro de mais alguma coisa, sobretudo quando se volta a falar e a insistir de que a Igreja é a hierarquia e o resto é o rebanho das ovelhas. Parece que se quer andar para antes do Vaticano II, onde directamente se afirmava: a Igreja é o clero, o resto é o rebanho.
Este movimento retrógrado tem levado muita gente à desilusão e ao afastamento. O resultado é uma espécie de divórcio, ou como alguns dizem, de cisma silencioso. Seria bom não confundir afastamento com falta de fé. A fé, se estava, continua a lá estar. Os afastados continuam a ter fé.
Quando o Papa diz que a crise da Igreja é uma crise de fé, ficamos sem saber a que Igreja se refere. Se à Igreja – Povo de Deus, pós conciliar –, se à Igreja Hierárquica, de sabor pré conciliar.
Na Igreja – Povo de Deus, pós conciliar – há falta de fé, mas há abertura e receptividade, sempre houve e continua a haver. Seria temerário atribuir a falta de fé ao Povo simples que vive o seu dia a dia e que gosta de mais fazer. Convém saber um pouco das suas razões. Resumidas, são elas:
- Falta de fé de quem preside ou dirige; se os detentores do poder mostram aparências de puro laicismo, como se pode acreditar neles, no que dizem e no que fazem?
- Falta de cuidados nas celebrações; se as palavras são prefabricadas, lidas sem convicção, porque não foram estudadas, as músicas apimbalhadas, como se pode ter fé numa aparência que não engana?
Estas razões acabam por ser as causas, todas provenientes da Igreja Hierárquica, e de espírito pré-conciliar, que julga ter todo o poder no céu e na terra.
Aqui, apesar de todos os pergaminhos, realça mais o aparato do que a verdade. Já nos alertava para este fenómeno o saudoso Padre Dr. Manuel António Pimentel quando desabafava: ”boas pessoas, sim, mas não tem fé”; “boa pessoa mas não tem carisma”.
A crise da Igreja é uma crise de fé. Uma afirmação verdadeira, sim, não por ter sido dita pelo Papa, mas por ser evidente.
Sabemos que é dentro da Igreja Hierárquica que os entraves mais se acumulam. Nos seus meandros proliferam as verdadeiras causas que ela mesmo criou, imprimiu e acumulou durante séculos, em nome do poder que a sustenta. Uma teia de que tudo está interligado e definido. Um inferno que nada poderá contra ela, pois ela mesmo o criou.
Mas os tempos não perdoam, e hoje já não há pátios dos gentios que resistam. Todos falam da secularização, como se ela fosse um grande mal. Mas não é, e já se começa a aceitar como dado adquirido. Todavia, não é o bastante. Falta dar passos em frente.
Se o caminho a seguir tiver que ser o da secularização, como tudo parece indicar, então que se acabem com todos os equívocos. Que se acabem de vez com todas as leis impeditivas do desenvolvimento interior da natureza humana. (Não se compreende que as altas esferas do Vaticano não tenham ainda assinado a Carta dos Direitos do Homem).
A fé já começa a revelar-se como o cumprimento de um rito. Os homens e as mulheres serão sempre livres de o fazer. Para assumir compromissos entre si ou não. Em toda a parte. Na sociedade, na família, no emprego. Para tudo bastará uma só pedra – Jesus Cristo.
Felizmente que, neste ponto de vista, há fé abundante. Por toda a parte. Até nos que se dizem ateus. É verdade que pode não ser fé adulta, consciente, segundo os cânones dos espertos em teologia, mas fé suficiente para acreditar em Deus na figura de Jesus Cristo. E isso basta para se ser cristão. É bom lembrar que a fé não se mede aos palmos nem ao metro. A medida está dentro de cada um.
Há muito melhoramento por fazer por dentro da casa mãe. Os “pátios dos gentios” vão estar virados para esse lado? Não creio. Há muitas barreiras a quebrar. Entretanto a crise de fé continuará a aumentar, apesar das boas estruturas materiais que hoje existem por todo o lado.
escrito na ortografia antiga
altodoscedros.blogspot.com