A 17 do corrente foi dia de ir ao santo padroeiro – Santo Antão, patrono dos animais.
Pelo caminho recordei os pastores do mato: “Ao portal das vossas vacas//Mamei leite nas tetinhas //Santo Antão vos guarde as vacas// Mais as vossas bezerrinhas”. Ou então: “Passei pelas vossas vacas // Mamei leite, deu-me sono // Santo Antão vos guarde as vacas // Mais a vós que sois seu dono”.
Levei a minha prenda ao santo padroeiro, cuja freguesia o ministro Relvas quer riscar do mapa. Espero que se lembre que é seu protegido – já que também faz parte da lista dos humanos – e que o deixe em paz no seu trono.
O tempo esteve nublado com boas abertas, embora bastante frio. Foi dia de ver gente mais velha, também do meu tempo, e de estar com os meus.
De nada mais teria a dizer deste dia de Santo Antão. “Foi mais um, e este já está na conta”, diriam os mais velhotes. Mas há sempre uma nota a revelar ou a recordar.
Os presentes a Santo Antão, em tempos recuados, eram mais a “talhada” do toucinho dos porcos do que de bonecos de massa sovada, como hoje acontece.
As matanças eram quase sempre em Janeiro, o mês do Padroeiro. Os dias começavam a ser “apalavrados”, fixos, entre parentes e amigos.
Depois das escolhas feitas e combinadas, estava o mês de Janeiro todo ocupado. Em tal dia, sou eu, em tal dia, és tu, e assim sucessivamente.
O mês de Janeiro era para matar os porcos. Depois, já em Fevereiro, havia as vinhas para cavar e as primeiras sementeiras nas zonas ribeirinhas.
Os porcos, em Fevereiro, já deviam estar nas salgadeiras. Prontos para acompanhar homens e mulheres durante o dia nos campos a mondar, a tratar das sementeiras, a cuidar dos animais.
Hoje, não há salgadeiras. Há os frigoríficos. Os animais já não lavram os campos nem puxam os carros. Em qualquer altura do ano se mata um porco. Tudo se modificou, tudo se liberalizou. Mais espaços para os afazeres diários, mas, entenda-se, o espírito solidário, permanece.
Os costumes, pois, modificaram-se. Não com alterações substanciais, mas com as acomodações exigidas pelos novos tempos. Festas menos prolongadas como convêm. Como os novos computadores – menos volumosos, mais concentrados.
Santo Antão também se acomodou. Deixou de ter toucinho, apesar de ainda se matarem porcos em Janeiro. Passou a ter mais promessas de massa sovada.
Em vez de ser todo o dia de festa, que começava de manhã, passou a ter a missa Solene à tarde, seguida de arrematações e procissão. Como já acontece por todo o lado, até pelo Bom Jesus. Estamos na época do mini. Mas sempre, como ainda reclama o povo crente, não todo, no seu dia próprio. A Banda, este ano, foi a de Santo Amaro.
Perante as crises que atravessamos, que também atingem os santos padroeiros, só nos falta dizer que esperamos, no próximo ano, voltar, nem que seja para ver se ainda preside aos destinos da freguesia. (2.471 caracteres)
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