quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

"Janeiro fora, mais uma hora"

Diz-nos o tempo que já levamos, que o “ditado” está ligado aos afazeres dos campos e ao tratamento dos animais. Mais uma hora para amanhar sementeiras e tratar dos bichos, mais uma hora da luz do dia, mais uma pequena economia nos gastos do azeite ou do petróleo. “Quanto mais tarde se acender a luz, maior será a economia! É preciso poupar!”
        “Mais uma hora”, hoje, continua a ser determinante para os afazeres, não só no campo como em noutros locais de trabalho. “Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje”.
        Nos tempos presentes – com a indignação a não querer abrandar – faz sentido voltar a esta filosofia da ocupação do tempo, medido pela luz solar. Custa voltar a ser conformista sem o querer ser. Mas tem de ser. Dois passos à frente, um atrás, ou menos ainda, sabe-se lá.
Estamos em crise. Por toda a parte se fala na crise. A Europa que todos louvavam passou-nos uma rasteira, que deu em desgraça, e uma desgraça nunca vem só. E é verdade. Traz consigo outras desgraças.
        A Europa levou-nos para a sua mesa. Fez-nos estradas e pontes e barragens. Depois de tudo feito, outra Europa mandou-nos embora. “Vocês não as ocupam, não precisam delas, vamos nós ocupá-las”. “Vamos passar pelo vosso país deixando lá o que nos interessa deixar”. “Nós é que mandamos!”
E nós ficamos a olhar. De boca aberta. Ficamos pior do que dantes. Ficamos reduzidos às nossas courelas. Ao quase nada. De mãos a abanar.
Mas…não podemos ficar imóveis. O que fazer?
        Temos um remédio: ocupar o tempo, saber ocupar o tempo. Porque leva à poupança, leva a mais economia. Colocando sempre em primeiro lugar o sustento, evitando usar o que nos trazem de fora. Como agora, segundo as noticias que andaram por aí, de leite espanhol a 13 cêntimos o litro.
        É de ficar indignado. E dizer assim: fechem já as fronteiras. Nunca mais agente se levanta. Cotas para isto e para aquilo, e não há regras para os preços?
As alternativas começam pelas nossas hortas, pelos nossos campos. Nos mercados insulares. Com produtos tradicionais.
Este terá de ser o caminho, embora seja de opção individual, pois nunca uma autoridade regional, ou nacional, poderá legislar sobre as escolhas de cada cidadão. Dependerá das opções, e dos preços. Aqui, sim, tem a palavra o governo.
E depois, sempre tivemos outros caminhos. Os primeiros caminhos são sempre os melhores – os ultramarinos. Voltar a ter barcos para ir para longe e mais longe, sempre mais longe. (Não há amor como o primeiro). Nunca devíamos ter deixado encalhar os nossos orgulhosos barcos – o orgulho dos mares que foram.
“Mais uma hora” de trabalho em Janeiro, mais em Fevereiro e Março e por aí fora, é estimulo para mais produção. Para ocupação do tempo.
A nossa terra é das mais produtivas. Assim o entendam os mais novos, desabituados que andam nestas andanças e pouco motivados para estes apelos. Mas é o caminho. “Mais uma hora”. “De hora a hora Deus melhora, podes ter fé no rifão, mas não durmas, vai buscando remédios por tua mão”. (2570 caracteres)
escrito na ortografia antiga
altodoscedros.blogspot.com