sexta-feira, 9 de setembro de 2011

SINCERAMENTE, OBRIGADO...

Acabo de receber o livro “José Vieira Alvernaz, Patriarca das Índias, Arcebispo de Goa e Damão”, escrito por Maria Guiomar Lima, que teve a gentileza de mo enviar, de Lisboa, onde reside.
        Maria Guiomar Lima, ainda criança, residente com seus pais na Ribeirinha, foi, na década de 1950, juntamente com eles, para Angra. Nesta cidade fizeram a sua vida e ela fez os seus estudos.
Não recordo essa partida, nem recordo algum momento ocorrido em Angra. E durante estes anos todos não tive mais notícias da sua família.
        Todavia, há poucos meses tive a notícia de que Maria Guiomar Lima havia feito a biografia de D. José. De imediato, logo me despertou a curiosidade de fazer a sua leitura, já que de alguns episódios da vida de D. José, fui testemunha.
Também terá sido por sua influência que fui parar a Angra do Heroísmo. Sempre, durante a sua vida, trocámos correspondência e por muitas horas conversámos. Em Angra, poucas vezes; muitas, na Baixa, no balcão da sua adega.
 Por isso deixo aqui as minhas congratulações de apreço e simpatia para com a autora desta meritória obra, de tão ilustre figura que foi o último Patriarca das Índias, nosso conterrâneo.
Já li o livro quase todo, e sobretudo as viagens, as consultas e as diligências que Maria Guiomar fez para trazer à “tona da água” a vida de D. José Alvernaz. Não vou aqui relatá-las todas, apenas algumas. Ou melhor, tocar num ou noutro porto da viagem que teve de fazer até às costas do Malabar para colher a informação possível, nos arquivos e nas pessoas ainda vivas, que conheceram D. José.
Os caminhos, agora não marítimos, para a Índia, foram menos perigosos, sem adamastores, nem tormentas, mas minuciosos e pacientes. Também difíceis e complicados.
A Maria Guiomar Lima teve a felicidade do estudo acompanhado e personalizado de D. José, depois do seu regresso definitivo a Angra. Ia com frequência às aulas gratuitas que o Patriarca concedia a quem o procurava. Foram as primeiras fontes de informação.
Vieram depois outras. A Sociedade de Geografia de Lisboa, a Biblioteca Nacional, os jornais A União, O Dever, Correio dos Açores, A Voz de São Francisco Xavier, O Heraldo, A Índia Portuguesa e A Voz de Macau, além de outros, foram passos obrigatórios, portos dos primeiros abastecimentos para tão longa viagem.
O trabalho foi orientado pelo Professor Doutor Artur Teodoro de Matos que aconselhou Maria Guiomar a “procurar as pessoas que conheceram o último Patriarca das Índias”. E ela foi.
 Começou pelo Arquivo Histórico Ultramarino, depois o Ministério dos Negócios Estrangeiros. Foi a Roma ver o que podia encontrar no Pontifício Colégio Português onde estudou Alvernaz.
Conversou com ex-combatentes em Diu e em Goa, como os senhores João Aranha e Manuel Bernardo, este último natural de São João do Pico, e que já há muito tempo sabia e falava da investigação da autora. Conversou com Pezart Correia, com o neto de Vassalo e Silva, antigo Governador de Goa, com Adriano Moreira e muitas outras individualidades que foram do tempo do Patriarca na Índia.
Concorreu a uma bolsa de estudos da Fundação Oriente, para viagem de estudo de pouca duração. A bolsa foi-lhe atribuída e lá foi até Goa, Damão e Diu e depois até Cochim.
Nestas curtas estadias teve oportunidade de consultar e ouvir os ecos deixados por Alvernaz nas terras do Oriente. Em sacerdotes ainda vivos, Cúria Diocesana, Boletim Eclesiástico de Goa e pessoas cristãs, responsáveis por instituições da Igreja.
Neste apontamento, muito mais não cabe dizer. É melhor o conselho para a aquisição desta biografia. Quem tiver oportunidade de ler esta obra, não deixe de olhar para os Agradecimentos (ou relato de uma investigação) a partir da página 247. Talvez seja mesmo bom começar por aí.
No conjunto, e pelo que me é dado recordar, a biografia está fiel a tudo o que se passou na vida deste homem do Pico. Menos, naturalmente, a sua simplicidade e humildade que o tornava reservado no que mais lhe tocava o coração, no que tinha de mais íntimo. Essa virtude levou-a consigo. É a virtude dos santos, e ele foi um santo.
Transcrevo o que está escrito nas primeiras linhas do livro:
“Era Outono de 1962, o Concílio Ecuménico Vaticano II ia começar. Um homem alto, magro, de barbas brancas desembarcou no aeroporto de Roma vindo do Oriente. Queimado pelo sol, usava a batina clara e o chapéu dos bispos missionários e parecia exausto com o olhar cansado de quem não dormia há muito. Procurou uma cara conhecida entre a multidão que aguardava passageiros, mas não viu ninguém à sua espera e baixou a cabeça ainda mais abatido. Em seguida endireitou-se, firme, espadaúdo, pegou na sua pequena mala de viagem e tomou um transporte público para o centro da cidade”.
Parabéns à Maria Guiomar Lima por esta viagem à índia, à descoberta das obras e feitos que por lá deixou José Vieira Alvernaz, filho da Ribeirinha do Pico.
Sinceramente, obrigado pela gentileza da oferta que me mandou.
 (escrito nas ortografia antiga)