domingo, 8 de abril de 2012

A LIRA AÇORIANA e o canto dos Grupos Corais da Horta e das Lajes do Pico, na Matriz das Lajes a 7 de Abril de 2012

A nossa participação com o Grupo Coral das Lajes, apesar de pouco significativa, no concerto de Páscoa que a Lira Açoriana deu na Igreja Matriz das Lajes, no sábado, 7 de Abril., foi uma experiencia para recordar e tirar lições.
Foi a primeira vez, e penso que terá acontecido assim com muitas outras pessoas, que vimos ao vivo a Lira Açoriana, a selecção musical dos tocadores filarmónicos açorianos, espalhados por todas as ilhas. Uma selecção que faz lembrar outras selecções, esta de qualidade superior, dentro do seu género, naturalmente.
Nunca fui filarmónico, nem estudei algum instrumento de sopro ou de arco. Apenas estudei, um pouco, a voz que Deus me deu – o melhor instrumento musical de sempre. Na juventude, nunca tive posses para ter e aprender um instrumento de teclas, sopro ou de cordas.
Apesar disso, e apesar da minha audição já não ser o que já foi, digo que o seu desempenho foi perfeito, coeso, com uma perfeita conexão entre todos os instrumentos, daí resultando uma fusão, arco-íris de todos os sons.
A obra artística musical, na análise que faço, resulta da percepção que provoca na audição do ouvinte. O que senti, durante a audição do concerto, foi isso mesmo – uma perfeita sintonia entre todos os diversos componentes. E ficaria por aqui, quanto à actuação puramente instrumental.
Mas antes, permitam-me que refira a participação desta ilha. Sem entrar em comparações, nem fazer juízos de qualquer espécie, esta ilha contribui com um bom número de músicos. Uma razão que muito apreciamos e que deve deixar os responsáveis da ilha, satisfeitos pelos muitos valores que cada vez mais despontam no meio onde vivemos. Com um relevo especial para os dois músicos, componentes da orquestra, também seus compositores – Hélder Bettencourt e Antero Ávila.
Este é o primeiro grande sinal de garantia para o futuro da Lira Açoriana, como também para as instituições musicais espalhadas pelas ilhas – grupos folclóricos, grupos de cantares, grupos corais e paroquiais, bandas filarmónicas.
Exprimo aqui, que foi a partir dos tempos, não muito recuados, em que a Música começou a fazer parte dos currículos das escolas públicas, que os progressos se fizeram sentir. Por isso hoje temos uma LIRA AÇORIANA, e temos melhores filarmónicas. Vamos no bom caminho.
Retomando o concerto, e numa apreciação global, confesso que ficámos satisfeitos com o desempenho de todo o conjunto. Já atrás o dissemos. As execuções foram perfeitas, de elevado grau de qualidade.
Na parte coral ainda há muito trabalho por fazer. O que não é de estranhar. A voz humana é um instrumento muito delicado. Sobretudo para temas com acompanhamento de instrumentos de sopro. Quando as vozes aparecem, toda a orquestra deve mostrar que está ao serviço da voz humana, pois é ela que dá vida e alma a todo o grupo. As vozes tem de aparecer, claras, limpas, seguras, expressivas, sorridentes. Para isso precisam de ter corpo e consistência, segurança. Foi o sector menos trabalhado, sem desprimor para ninguém.
Não é crítica, antes pelo contrário. É alerta para melhor trabalho. Um apelo para que se olhe mais para a voz humana. Para que se cultive mais a voz humana, nas escolas e nos grupos corais, como hoje fazem os filarmónicos com os seus instrumentos. Alguns até nos dão a ideia de algo fora do comum - visão celeste, angélica. Eles deram a lição.
A nossa participação, pouco relevante, deu para recordar no futuro, perceber, entender e tirar lições. Parabéns à Lira e aos Coros da Horta e das Lajes que participaram.
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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Conselhos de Ilha...entidades desnecessárias

Antigamente, ouvia falar dos conselhos de família, sempre que alguém deixava este mundo, e com ele os bens que gozou durante a vida, sem lhe ter dado o destino futuro, enquanto viveu.
Era preciso saber dar a esses bens um dono: a sua distribuição pelos familiares mais directos ou outras soluções consentâneas com as leis do país, em conformidade com os usos e costumes.
Mas este preâmbulo nada tem a ver com sucessões de bens. Mas tem a ver, sim, com os nossos hábitos. Que geralmente são bons e devem ser cultivados. A não ser que sejam duplicações sem utilidade.
Talvez, por isso, se tenha um dia pensado, já depois de ter sido eleita a primeira Assembleia Regional dos Açores, na constituição do designado Conselho de Ilha. Isto é, depois do edifício constituído – uma Assembleia, para a Região, uma Assembleia para a Câmara Municipal e uma Assembleia para a Freguesia, ainda teria que haver uma outra quarta Assembleia, o Conselho de Ilha.
Seria uma entidade que estaria para além das outras, uma espécie de fonte informação, uma entidade suprapartidária, qualquer coisa a mais para ajudar. Ora bem, veio a revelar que não veio ajudar nada. Só veio para confundir, discutir, perder tempo, e nada mais.
Vejam: uma Assembleia Regional para as questões do Governo; uma Assembleia Municipal para as questões do Município; e uma Assembleia de Freguesia para as questões da Junta de Freguesia. E pergunta-se, para quê ainda mais uma assembleia?
Exemplifiquemos: Um governo só responde perante a Assembleia Regional. Quando visita uma ilha, só os deputados da ilha é que são os legítimos representantes do povo para dizer e questionar a acção governativa. Eles e só eles é que devem acompanhar o Governo dentro da ilha, só eles é que devem colocar as questões da ilha. As autarquias são chamadas a colaborar na execução de projectos, e poderão ser consultadas pelos governos. Nada mais.
Basta que para isso os deputados da ilha estejam bem informados – é a sua obrigação – dos problemas da ilha que sejam da responsabilidade do Governo, e estejam sempre prontos para o fazer.
E por isso, façam o enterro ao conselho de ilha. É uma entidade que está a mais. Já nos dizia o mestre em filosofia, José Enes: “non multiplicanda entia sine necessitate”, não se devem multiplicar os entes sem necessidade.
É possível que haja alguém que não esteja de acordo. Mas, por aquilo que vejo e leio nos jornais, chego à conclusão que é melhor pedir contas aos deputados, colocá-los à frente das questões da responsabilidade dos governos. Esse é o caminho. São os deputados que hão-de procurar saber dos problemas, colocá-los no parlamento e colocá-los também nas visitas que os governos fazem às ilhas. Os povos devem pedir responsabilidades, primeiro aos deputados.
 O êxito dos governos depende do que os deputados fizerem.
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terça-feira, 3 de abril de 2012

"Semanas Culturais e Recreativas" - Calheta do Nesquim

A freguesia da Calheta do Nesquim pertence ao Concelho das Lajes do Pico e fica situada na zona da Ponta da Ilha, toda virada para os mares do sul. É zona bastante extensa e íngreme.
Seguindo o percurso de leste para oeste, vai da Cruz do Redondo, passa no Terreiro junto ao porto e prossegue até à Ribeira Grande, onde termina.
 Assim me habituei a percorrer a Calheta desde os tempos antigos, quando, na companhia de pessoa de família, ia comprar o cotim para as calças de agasalhar, à loja do José d’Ávila, no Terreio da Calheta, ou, mais tarde, para ir às festas do Bom Jesus, geridas e orientadas pelo Padre Adolfo Ferreira.
 Os engenheiros que fizeram o alinhamento da estrada regional, quando entraram na zona da freguesia em direcção à Piedade, optaram por uma ligação mais interior e alta, em vez de uma outra mais próxima do aglomerado populacional.
 Beneficiaram os habitantes dos terrenos mais interiores, em detrimento dos restantes que habitavam as zonas mais ribeirinhas. A opção acabou por ser compensada, tanto para os homens da pastorícia como para os pescadores e baleeiros, com os melhoramentos do ramal. No princípio, algo difícil. Mais tarde, tornado acessível e de fácil trânsito.
 Apenas um reparo, ainda hoje notório: os espaços exíguos no centro da freguesia, para o estacionamento de viaturas em dias festivos ou de maior movimentação. O campo de futebol tem sido uma boa solução para estacionar em dias de maior movimento.
Nos caminhos e acessos, nas águas e nas luzes, a comunidade calhetense goza dos benefícios que hoje se exigem. As falhas, se as há, não serão de monta. É a nossa percepção.
Em todas as áreas da sustentabilidade humana a comunidade calhetense não diverge muito das outras comunidades. Talvez menos na agricultura, mais na pecuária e mais ainda no mar. Isso é notório pela sua própria geografia. A História assim o confirma. O manto das culturas agrícolas é íngreme e de pouca dimensão, de difícil mecanização. Apto para as frutas e vinhas.
No passado, o mar foi a grande fonte de riqueza, devido à pesca e à caça da baleia. Uma actividade que marcou a freguesia e a ilha. Tão importante e de tamanha dimensão que se estendeu à palavra e à literatura. Um seu filho – José Dias de Melo – foi o homem que lhe deu essa fama e que a levou aos quatros cantos do mundo. Na exposição dos livros, lá estavam muitos dos exemplares das obras que escreveu.
Hoje, na pesca artesanal, não terá a dimensão desejada, mas continuamos a ver muita embarcação no seu porto de pesca. Sinal de boa actividade piscatória.
Porque os acessos foram abertos para as zonas dos matos, a pecuária terá maior dimensão. No seu interior, lugares altos, as pastagens são campos abertos e verdejantes indicando grandes criações.
E nas indústrias lá encontramos uma moagem e uma panificação, a Padaria dos Fetais, bastante conhecida em toda a ilha, além de um artesanato  de valor.
À semelhança das outras “Semanas Culturais e Recreativas” até aqui levadas a efeito, também as tertúlias foram revelando as virtualidades da freguesia. De tudo, um pouco se falou e discutiu, de metas a ter em conta. Um Club Náutico pode ser, um dia, uma realidade.
 Todo o património cultural parece-nos bem cuidado. A Igreja Paroquial, o Império do Espírito Santo, o Salão Polivalente, as Casas dos Botes, a Escola, o Moinho do Morricão, as Piscinas, o Coreto, os pequenos largos das festas de verão nas Canadas e na Feteira, são os retratos da vida cultural dos calhetenses. São a prova dos esforços feitos na sua conservação. Em todas perpassam e se preparam os mais diversos eventos ao longo do ano. A Filarmónica, já centenária, ocupa lugar privilegiado.
No campo das acessibilidades há, no nosso entender, uma ligação a completar. Da Feteira para a Manhenha. Por muito pouco interesse que possa parecer, há que cultivar o pouco que se tem. É pelas pequenas coisas que se qualificam as obras, grandes ou pequenas, e se preparam os lugares para serem desejados a acarinhados.
 Um lugar, isolado, pode ser mais atractivo, do que um outro, bem no centro da vila ou da cidade. É tudo uma questão de saber dar-lhe o ambiente merecido. E julgo que, uma boa lição a tirar destas “semanas culturais”, é mesmo esta: tornar a freguesia mais atractiva, mais bela.
Não incluímos o lugar das Faias no apontamento que fizemos sobre a Piedade. Cabe aqui pela sua proximidade, e como exemplo. Se os melhoramentos da água e da luz tivessem vindo mais cedo, talvez ainda por lá habitassem pessoas…
É a nossa opinião, quando apelamos aos melhoramentos dentro das nossas aldeias. Para que não se tornem cada vez mais desertas…para que se afirmem, perante os governos, que, quando as coisas não lhe correm bem, logo atiram as culpas para os mais afastados.
Continua a ser válido, fundamental, dar vida às freguesias, que foram feitas pelas pessoas, e não por determinação dos altos cargos da governação da cidade ou da capital. Deixem as pessoas viver no lugar que elas próprias escolheram para viver e crescer.
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