terça-feira, 3 de abril de 2012

"Semanas Culturais e Recreativas" - Calheta do Nesquim

A freguesia da Calheta do Nesquim pertence ao Concelho das Lajes do Pico e fica situada na zona da Ponta da Ilha, toda virada para os mares do sul. É zona bastante extensa e íngreme.
Seguindo o percurso de leste para oeste, vai da Cruz do Redondo, passa no Terreiro junto ao porto e prossegue até à Ribeira Grande, onde termina.
 Assim me habituei a percorrer a Calheta desde os tempos antigos, quando, na companhia de pessoa de família, ia comprar o cotim para as calças de agasalhar, à loja do José d’Ávila, no Terreio da Calheta, ou, mais tarde, para ir às festas do Bom Jesus, geridas e orientadas pelo Padre Adolfo Ferreira.
 Os engenheiros que fizeram o alinhamento da estrada regional, quando entraram na zona da freguesia em direcção à Piedade, optaram por uma ligação mais interior e alta, em vez de uma outra mais próxima do aglomerado populacional.
 Beneficiaram os habitantes dos terrenos mais interiores, em detrimento dos restantes que habitavam as zonas mais ribeirinhas. A opção acabou por ser compensada, tanto para os homens da pastorícia como para os pescadores e baleeiros, com os melhoramentos do ramal. No princípio, algo difícil. Mais tarde, tornado acessível e de fácil trânsito.
 Apenas um reparo, ainda hoje notório: os espaços exíguos no centro da freguesia, para o estacionamento de viaturas em dias festivos ou de maior movimentação. O campo de futebol tem sido uma boa solução para estacionar em dias de maior movimento.
Nos caminhos e acessos, nas águas e nas luzes, a comunidade calhetense goza dos benefícios que hoje se exigem. As falhas, se as há, não serão de monta. É a nossa percepção.
Em todas as áreas da sustentabilidade humana a comunidade calhetense não diverge muito das outras comunidades. Talvez menos na agricultura, mais na pecuária e mais ainda no mar. Isso é notório pela sua própria geografia. A História assim o confirma. O manto das culturas agrícolas é íngreme e de pouca dimensão, de difícil mecanização. Apto para as frutas e vinhas.
No passado, o mar foi a grande fonte de riqueza, devido à pesca e à caça da baleia. Uma actividade que marcou a freguesia e a ilha. Tão importante e de tamanha dimensão que se estendeu à palavra e à literatura. Um seu filho – José Dias de Melo – foi o homem que lhe deu essa fama e que a levou aos quatros cantos do mundo. Na exposição dos livros, lá estavam muitos dos exemplares das obras que escreveu.
Hoje, na pesca artesanal, não terá a dimensão desejada, mas continuamos a ver muita embarcação no seu porto de pesca. Sinal de boa actividade piscatória.
Porque os acessos foram abertos para as zonas dos matos, a pecuária terá maior dimensão. No seu interior, lugares altos, as pastagens são campos abertos e verdejantes indicando grandes criações.
E nas indústrias lá encontramos uma moagem e uma panificação, a Padaria dos Fetais, bastante conhecida em toda a ilha, além de um artesanato  de valor.
À semelhança das outras “Semanas Culturais e Recreativas” até aqui levadas a efeito, também as tertúlias foram revelando as virtualidades da freguesia. De tudo, um pouco se falou e discutiu, de metas a ter em conta. Um Club Náutico pode ser, um dia, uma realidade.
 Todo o património cultural parece-nos bem cuidado. A Igreja Paroquial, o Império do Espírito Santo, o Salão Polivalente, as Casas dos Botes, a Escola, o Moinho do Morricão, as Piscinas, o Coreto, os pequenos largos das festas de verão nas Canadas e na Feteira, são os retratos da vida cultural dos calhetenses. São a prova dos esforços feitos na sua conservação. Em todas perpassam e se preparam os mais diversos eventos ao longo do ano. A Filarmónica, já centenária, ocupa lugar privilegiado.
No campo das acessibilidades há, no nosso entender, uma ligação a completar. Da Feteira para a Manhenha. Por muito pouco interesse que possa parecer, há que cultivar o pouco que se tem. É pelas pequenas coisas que se qualificam as obras, grandes ou pequenas, e se preparam os lugares para serem desejados a acarinhados.
 Um lugar, isolado, pode ser mais atractivo, do que um outro, bem no centro da vila ou da cidade. É tudo uma questão de saber dar-lhe o ambiente merecido. E julgo que, uma boa lição a tirar destas “semanas culturais”, é mesmo esta: tornar a freguesia mais atractiva, mais bela.
Não incluímos o lugar das Faias no apontamento que fizemos sobre a Piedade. Cabe aqui pela sua proximidade, e como exemplo. Se os melhoramentos da água e da luz tivessem vindo mais cedo, talvez ainda por lá habitassem pessoas…
É a nossa opinião, quando apelamos aos melhoramentos dentro das nossas aldeias. Para que não se tornem cada vez mais desertas…para que se afirmem, perante os governos, que, quando as coisas não lhe correm bem, logo atiram as culpas para os mais afastados.
Continua a ser válido, fundamental, dar vida às freguesias, que foram feitas pelas pessoas, e não por determinação dos altos cargos da governação da cidade ou da capital. Deixem as pessoas viver no lugar que elas próprias escolheram para viver e crescer.
altodoscedros.blogspot.com
escrito na ortografia antiga