terça-feira, 31 de maio de 2011

Loucura do sagrado

Todos se lembram de D. Helder Câmara, o Bispo santo do Brasil. Aqui deixamos um poema, muito original dedicado aos que comandam a Igreja de Roma.
Sonhei que o Papa enlouquecia
e ele mesmo ateava fogo
ao Vaticano e à Basílica de S Pedro...
Loucura sagrada,
porque Deus atiçava o fogo
que os bombeiros,
em vão, tentavam extinguir.
O Papa, louco,
saía pelas ruas de Roma,
dizendo adeus aos Embaixadores
credenciados junto a ele;
jogando a tiara no Tibre;
espalhando pelos pobres
o dinheiro todo
do Banco do Vaticano...
Que vergonha para os Cristãos!
Para que um Papa
viva o Evangelho,
temos que imaginá-lo
Em plena loucura!...

Dom Helder – 4/5.5. 1974

terça-feira, 24 de maio de 2011

A Igreja ainda tem salvação?

Com este título publicou o conhecido e conceituado teólogo português Anselmo Borges um artigo de opinião no Jornal de Notícias de 21 de Maio corrente. Pela sua coragem aqui se transcreve.
"Não falta quem se irrite com o simples nome de Hans Küng, acusando-o inclusivamente de ressentido: não teria ainda perdoado a João Paulo II nem a Bento XVI a condenação. Mas quem tenha boa fé sabe que Küng se confessa convictamente cristão - para ele, ser cristão é ter Jesus Cristo como determinante na vida e na morte - e não pode ignorar o seu contributo incalculável para o encontro da fé com o mundo moderno e pós-moderno e um ethos global. Leia-se, por exemplo, a sua recente obra Was ich glaube, várias vezes aqui citada e agora traduzida para espanhol - Lo que yo creo -, onde, de modo profundo e pessoal, responde às perguntas essenciais: em que posso acreditar?, em que posso confiar?, em que posso esperar?, como posso configurar a minha vida?

Foi por imperativo de consciência que escreveu o livro que acaba de ser publicado: Ist die Kirche noch zu retten? (A Igreja ainda tem salvação?). "Preferiria não ter escrito este livro. Não é agradável dirigir à Igreja, que foi e é a minha, uma publicação tão crítica", mas, "na presente situação, o silêncio seria irresponsável".

De que sofre a Igreja? A Igreja católica, a maior, a mais poderosa, a mais internacional Igreja, essa grande comunidade de fé, está "realmente doente", "sofre do sistema romano de poder", que se caracteriza pelo monopólio da verdade, pelo juridicismo e clericalismo, pelo medo do sexo e da mulher, pela violência espiritual. Que propõe Küng?

É preciso voltar a Jesus Cristo, ao que ele foi, é, quis e quer. De facto, em síntese, a Igreja é a comunidade dos que acreditam em Cristo: "A comunidade dos que se entregaram a Jesus Cristo e à sua causa e a testemunham com energia como esperança para o mundo. A Igreja torna-se crível, se disser a mensagem cristã não em primeiro lugar aos outros, mas a si mesma e, portanto, não pregar apenas, mas cumprir as exigências de Jesus. Toda a sua credibilidade depende da fidelidade a Jesus Cristo." Como procederia Jesus nas actuais situações, quando pensamos no modo como agiu? Seria contra o preservativo, os anticonceptivos, excluiria as mulheres, obrigaria ao celibato, proibiria a comunhão aos recasados? Que diria sobre as relações sexuais antes do casamento? Como procederia em relação ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso?

A Igreja não pode entender-se como um aparelho de poder ou uma empresa religiosa, mas como povo de Deus e comunidade do Espírito nos diferentes lugares e no mundo. O papado não tem que desaparecer, mas o Papa não pode ser visto como "um autocrata espiritual", antes como o bispo que tem o primado pastoral, vinculado colegialmente com os outros bispos.

A Igreja, ao mesmo tempo que tem de fortalecer as suas funções nucleares - oferecer aos homens e mulheres de hoje a mensagem cristã, de modo compreensível, sem arcaísmos nem dogmatismos escolásticos, e celebrar os sacramentos -, deve assumir as suas responsabilidades sociais, apresentando, sem partidarismos, à sociedade opções fundamentais, orientações para um futuro melhor.

Não se trata de acabar com a Cúria Romana, mas de reformá-la segundo o Evangelho. Essa reforma implica humildade evangélica (renúncia a títulos como: Monsignori, Excelências, Reverências, Eminências...), simplicidade evangélica, fraternidade evangélica, liberdade evangélica. E é necessário mais pessoal profissional, acabando com o favoritismo. De facto esta Igreja é altamente hierarquizada e ao mesmo tempo caótica. Quem manda no Vaticano? "Conselheiros independentes haverá poucos."

Mais: precisa-se de transparência nas finanças da Igreja; deve-se acabar com a Inquisição, não bastando reformá-la, e eliminar todas as formas de repressão; não é suficiente melhorar o Direito eclesiástico, que precisa de uma reforma de base; deve-se permitir o casamento dos padres e dos bispos, abrir às mulheres todos os cargos da Igreja, incluir a participação do clero e dos leigos na eleição dos bispos; não se pode continuar a vedar a Eucaristia a católicos e protestantes; é preciso promover a compreensão ecuménica e o trabalho em conjunto."

sábado, 7 de maio de 2011

Uma semana de cultura intensa

Intensa porque virada para dentro. Para mais tarde apreciar e recordar. Sobretudo recordar.
Com efeito, de um a sete do corrente mês de Maio – a semana que passou – o Grupo Coral das Lajes do Pico com a totalidade dos seus actuais executantes, cerca de 50, e durante duas horas por dia e ao serão, esteve concentrado na execução, o mais perfeitamente possível, de temas musicais do seu repertório. Foram gravados temas relacionados com a cultura religiosa popular. Do Espírito Santo e do Natal.
        O trabalho realizado ficará registado nos arquivos da RDP-Açores, que depois cederá ao Grupo Coral, a fim de o editar em CD. Nesta fase, assim foi acordado.
        Os temas gravados serão agora objecto de apreciação, selecção e organização, com vista à sua publicação em CD.
        Foi uma semana trabalhosa e extenuante da história do Grupo Coral, a juntar às outras quatro que tem no seu currículo – Música Popular Açoriana, Montanha do Meu Destino, Música em Tempo de Festa e participação em Os Melhores Coros Amadores da Região.
Foi uma semana de cultura intensa que serviu também para o Grupo se avaliar a si próprio. O que ficou registado será, pois, no futuro, apreciado e comentado. Primeiro pelos seus executantes, e depois por outros que tiverem essa oportunidade. Em todos os casos, virá sempre ao de cima a sua competência.
Com esta semana de trabalho – mesmo que a selecção que agora vai ser feita não tiver o volume que inicialmente se desejaria – o Grupo Coral deu mais um contributo à cultura musical açoriana. Dentro das suas limitações, que as conhece e reconhece, ficaram a alma, o gosto, o empenho de cantar a música que temos. Foi uma semana de presenças constantes, quase sem excepção. Sem arredar pé. Um bom sinal para qualquer grupo.
Salientamos que, excepto na participação em Os Melhores Coros Amadores da Região, as gravações foram novamente feitas pelo técnico Raul Resendes, motivo que muito contribuiu para a excelente receptividade de quantos viveram os serões desta semana. A sua experiência e competência são sobejamente reconhecidas. Estamos gratos por isso.
Esta primeira fase – a gravação de temas musicais seleccionados – teve o apoio da Câmara Municipal das Lajes do Pico, RDP – Açores e Igreja Matriz, permitindo esta última que os trabalhos se realizassem dentro do templo. Um agradecimento a todos, extensivo ao posto da PSP das Lajes pelo controle da circulação automóvel à volta da Igreja Matriz. Foram sinais de que estão atentos às iniciativas particulares que acontecem, que as valorizam, respeitam e apoiam.
Tendo em conta que os temas gravados, na sua totalidade, são oriundos da cultura religiosa do meio açoriano, é de crer que o trabalho desta semana tenha sido também um contributo à consolidação da fé que se pratica. Neste sentido, tenha-se em atenção os apelos de Bento XVI, quando aponta para a valorização da cultura cristã, como meio de salvaguardar os valores cristãos herdados dos tempos antigos.
Os passos seguintes serão os apoios necessários para a sua publicação. Serão solicitados ao Governo, às Câmaras Municipais, às juntas de Freguesia, às entidades particulares e também individuais. Da sua ajuda dependerá a brevidade ou demora da sua publicação.
Para conhecimento do público, aqui se indicam os temas relativos ao Espírito Santo:
Invocação – Tomás Borba                                            
Hino do Espírito Santo – Jacinto Inácio Cabral
Adoremos com afectos… As vossas glórias – Popular
Voz dos meus humildes cantos – J.S.Bach
Estas mesas… – Popular de São Roque do Pico
Recolhei-vos, pomba branca… – Ribeirinha do Pico
O Divino Espírito Santo … – São Miguel
Pastores, à serra… – Ribeirinha do Pico
Ó Senhor Espírito Santo… – Lajes do Pico
Bateram Trindades – Tomás Borba
Hino da Região – Joaquim Lima/Natália Correia
Este último tema é aqui incluído porque a Segunda- Feira do Espírito Santo é o dia da Autonomia. Assim sendo, o Hino da Região acabou por ficar consagrado dentro dos festejos tradicionais em louvor da Terceira Pessoa da Santíssima Trindade – o Espírito Santo.
Resta aguardar que, depois da selecção que será feita, as demoras na edição gráfica e mormente nos apoios solicitados não se prolonguem demasiado. Se assim for, poderá o seu aparecimento acontecer já por altura das próximas festas maiores do Concelho das Lajes, ou seja, na última semana de Agosto.
Da minha parte só me resta dizer que enquanto tiver capacidade – que já vai acentuadamente faltando – continuaremos a cantar.
Não esqueçam marcar presença no dia 29 de Maio no salão da Irmandade do Espírito Santo da Companhia de Cima, para celebrar, com os irmãos daquela sociedade, os 100 anos daquela Irmandade.
 Até lá, continuação de Boas Festas do Espírito Santo para todos.

Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)

       
       

domingo, 1 de maio de 2011

MIradouro da TERRA ALTA

Mais um apontamento sobre o Miradouro da Terra Alta. Não para revelar nada de novo. Mas sim assinalar o tempo dos acabamentos finais. Possivelmente, quando este apontamento aparecer, já terá sido inaugurado, ou quase. Assim parece.
        Já há dias que por lá não passava. Aconteceu nos finais do mês de Abril. É lugar de afeição, pois por lá muito andei, nos tempos em que Nosso Senhor andava pelo mundo, para usar a expressão comum dos tempos difíceis do passado longínquo, rumo aos matos do Portal da Serra ou do Cabeço das Cabras, bem como à freguesia vizinha de Santo Amaro.
Fiquei agradado com todo o conjunto que envolve o núcleo principal do Miradouro. As ligações com os caminhos antigos para poente e para nascente foram a melhor solução.
Com o Miradouro da Terra Alta, faria a seguinte acomodação: como em imponente Catedral, altivo e altaneiro lá ficou o púlpito sobre o oceano e São Jorge, as falésias e ravinas sobre o mar do Baixio, elementos atentos aos olhares extasiados dos humanos, declamando poemas de amor e admiração. Ó belo oceano, que a todos nos beijas e abraças….desfaz as brumas que ofuscam….deixa ver o horizonte dos sonhos que trago comigo.
Depois deste “arrojo poético”, cujo autor desconheço, não deixo de lembrar a estória contada por antigos: o “Ti José da Pedreira”, já velhinho, ali foi um certo dia. Quando avistou São Roque e o Cais do Pico ao longe, exclamou: “sempre muito grande é o mundo”!
A escadaria fica para a história do Miradouro, o seu primeiro e principal acesso. E quanto ao púlpito sobre o grande precipício, parece-nos ter havido pouca ousadia. Um pouco mais de largura no extremo poderia ter acontecido. As consolidações parecem-nos correctas e teriam suportado mais espaço.
        Todavia, entre o óptimo e o bom – o diabo que escolha, costuma dizer-se – há que fazer uma. E qualquer que fosse ela seria legítima.
        Os reparos maiores que fazemos apontam para os espaços de estacionamento. Parecem-nos exíguos, pois não serão apenas os veículos ligeiros que por ali vão estacionar, mas também os colectivos. E assim sendo, outras larguras e comprimentos poderiam ter sido projectadas.
        No conjunto de toda a obra, acho que vale a pena a visita. Uma visita com dois objectivos: observar a paisagem que é deslumbrante, e toda a obra que envolve o Miradouro. Para além da paisagem em si – que é o principal – há que apreciar todo o seu enquadramento, com as duas entradas, uma pelo poente e outra pelo nascente. É uma obra que dignifica a autoridade regional. E que vem melhorar aquele local que a natureza nos deixou.
        (E, para as autoridades regionais e outros interessados, nas coisas que a natureza oferece, faço o seguinte convite: desçam o Ramal da Terra Alta da Ribeirinha, e, mais ou menos a meio, virem à esquerda, (com sinal de trilho já assinalado), caminhem cerca de um quilómetro, para verem um outro Miradouro, não menos espectacular – o Miradouro do Alto dos Cedros. Um segredo que, felizmente, já anda a ser descoberto).
Como epílogo final, acrescentaria: Terra Alta e Alto dos Cedros são dois miradouros de grande beleza, duas catedrais que importa valorizar. O primeiro acabado de vestir as vestes ornamentais de bem receber; o segundo ainda de vestes gentílicas, como a natureza fez. Dois irmãos, muito próximos, que não se vêem um ao outro. Cada qual espera uma visita.
Manuel Emílio Porto (altodoscedros.blogspot.com)