quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

O acordo ortográfico

Vem sempre ao de cima o chamado acordo ortográfico. De quando em vez aparecem opiniões sobre o mesmo, geralmente, contestando. Devo dizer que também não me soam bem as regras do novo acordo. Irritante, acho-o eu.
        Depois de uma vida inteira a praticar as normas da língua mãe – que nunca chegarei a saber todos os seus segredos – não é nada agradável ouvir imposições sobre modificações, abolições, e outras coisas. E muito menos ouvir e ler lições erradas. Dois exemplos:
- Ler heroíco, que nunca foi, pois o acento nunca foi no í, para dizer que agora é heroico, sem acento no ó que sempre teve – heróico.
- Ler asteroíde, que nunca foi, pois o acento nunca foi no í, para dizer que agora é asteroide, sem acento no ó que sempre teve – asteróide.
Melhor se diria: antes era heróico, agora heroico; Antes asteróide, agora asteroide.
À parte confusões desta natureza ou outras semelhantes, acho que é asneira levar a sério este acordo. Acho mais curial continuar como até aqui. Nunca o estudei, e muito menos alguma vez o pratiquei. Daí continuar a dizer “escrito na ortografia antiga”.
            Sempre chamamos à nação da foz do Nilo de Egipto, e aos seus habitantes egípcios. Se agora passamos a dizer Egito, (sem p), teremos de dizer também egitios (e não egícios). Ou não será? A lógica já deixou de ser um arrimo para ser uma batata?
        “Os activos e os passivos da conta de gerência…”. O a de activos é um a aberto; se cair o c fica um a fechado; e já não é o mesmo; ficaria assim: os ativos e os passivos…. Os ativos? Ora bolas….
        Não levo a mal que muitos procurem ajustar-se às novas regras. Cada um irá fazer conforme a sua formação, e conforme o amor que tenha à língua materna.
        Temos um património linguístico que importa salvaguardar. Não temos que alinhar com as variantes das novas línguas de origem portuguesa. Isso não aconteceu com outras. E todos se entendem convenientemente. O exemplo do inglês e do francês é bem evidente. Sou fiel aos mestres da língua: Cónego Pereira, Coelho de Sousa, Garcia da Rosa, Manuel Raimundo, além dos habituais Fernando Pessoa, e tantos outros da nossa História.
Por este caminho, qualquer dia teremos que fazer novos acordos, até entre ilhas e regiões de Portugal, sobre os sons das nossas falas. Quem sabe?
        Um homem representativo da nossa população mais antiga e rural diria assim: “essa coisa do acordo não passa de uma tolice de todos os tamanhos”.
altodoscedros.blogspot.com
escrito na ortografia antiga