Estamos a celebrar os cinquenta anos do Concílio Vaticano II. Um Concílio que apontou reformas que vingaram e que foram recebidas, de braços abertos, por responsáveis – e foram muitos – e pelos povos que as acolheram e fizeram delas práticas dos caminhos de Deus.
Nesta ilha e em muitas outras, os responsáveis da diocese – o penúltimo, felizmente, ainda vivo – reorganizaram e puseram em marcha reformas da piedade popular. Seguiram a orientação conciliar. Fizeram trabalhos, aprovados e louvados por muitos outros responsáveis do país inteiro, que passaram por esta e outras ilhas. Com plena aceitação dos devotos e crentes.
Passados que são cinquenta anos, chegou a altura de consolidar e fazer crescer. De consolidar, indo ao encontro dos povos, que sempre tiveram disponíveis para ajudar, com verdade e transparência.
Será a melhor forma de celebrar este aniversário conciliar. Com ajustamentos que são sempre possíveis, mas sem acusações a ninguém, muito menos acusações toscas, que, geralmente, são de nula eficácia. Em vez de ajuntar, afastam.
O uso do vernáculo foi a maior conquista. Todos entendem a língua mãe. Isso arrastou consigo maior exigência – transparência nas linguagens e nos sinais. As imagens e as metáforas ficaram mais acessíveis aos espíritos menos preparados. Foi o caminho aberto para uma consciência formada, na busca de práticas transparentes e não aparentes.
As metáforas dificilmente se justificam quando agressivas e selvagens. A não ser que as intenções sejam mesmo, como está acontecendo em muitos sectores, destruir o que de bom trouxe aquele Concílio Ecuménico. Uma forma de o fazer é acusar os que trabalharam para o pôr em prática. Não creio que por aqui já se tenha chegado a esse ponto. Mas, quando se recorre à metáfora do abutre para denegrir tudo e todos, algo de preocupante anda por perto.
O quadro alegórico do sábado de Lurdes, com a figura de D. José Alvernaz, veio recordar as esperanças do tempo conciliar. Talvez a melhor imagem alguma vez trazida ao cortejo etnográfico da festa. Por isso, aqui o invoco, como pretexto para dar uma palavra de esperança, e repudiar a agressividade de quem não sabe ou não entende.
A alegoria do Professor Hélder Fernandes não poderia ter sido mais oportuna e feliz. Oportuna pelo cinquentenário que se celebra, pela colaboração que este “homem do Pico” (juntamente com D. José da Costa Nunes, para só me referir à ilha do Pico), deu àquele grande evento, e consequentemente a lembrança do ar fresco que entrou nos espíritos em todo o mundo cristão.
Foram muitos os que desde o princípio tudo fizeram por ir ao encontro das reformas, de as pôr em prática, de aperfeiçoar, melhorar as maneiras de ver e compreender os caminhos da fé. Caminhos de luz e claridade. Sobretudo da possibilidade de mais participação. Eles não andaram enganados. Antes, pelo contrário.
Talvez fosse melhor empreender o que de muito ainda há por fazer. Parabéns ao Professor Hélder Fernandes pela alegoria que nos trouxe nos últimos dias de festa.
Nunca perturbámos nem perturbaremos a dinâmica do crescimento. Somente avaliaremos as afirmações toscas e desajustadas que por vezes temos a infelicidade de ler.
altodoscedros.blogspot.com
escrito na ortografia antiga