domingo, 25 de dezembro de 2011

Pela noite de Natal....

“Pela noite de Natal, noite de tanta alegria, caminhando vai José, caminhando vai Maria” – palavras populares de uma quadra popular natalícia – acompanharam-me, na mente, durante o percurso das Lajes por São Roque até Ribeirinha.
        Para decorar o pensamento, mandei que o leitor de CDs da viatura fosse rodando o CD NATAL: “Partiram os três reis Magos”, “Natal… na província neva”, “Canção pastoril”, e outros mais. O destino era a missa do Galo, com passagem para uma visita familiar, no norte da ilha.
 Prosseguindo, e já na Terra Alta, as luzes da ilha Dragão, ao lado, bem vivas, pareciam luzes vindas do Oriente, anunciando qualquer coisa de inusitado. Acompanharam-me sempre até à gruta de Belém – a pequenina igreja da terra natal que o ministro Relvas quer varrer do mapa.
Contrariando costumes antigos, a “Missa do Galo” foi às 21 horas. O que não tem nada de extraordinário, já que noutras partes do mundo, o mesmo terá acontecido. A hora da meia-noite, na medida do tempo, não é a mesma no mundo inteiro. Os fusos horários assim o indicam. Por isso, essa coisa da missa da Meia-Noite varia de lugar para lugar. É uma questão puramente racional. Não tem nada de dogmático.
É, todavia, motivo de ironia, continuar a dizer “Missa da Meia” e mais ainda “Missa do Galo”, pelas 21 horas, já que não é fácil ouvir os galos a cantar àquela hora da noite, depois do sol poente. Se por ventura acontece, logo se dirá que é de mau agoiro. Galos, a cantar a esta hora? Mau agoiro, são desgraças de certeza!... Ouvi exclamar muitas vezes.
Da celebração litúrgica que ajudei a cantar, ficou-me a convicção de que ainda as pessoas aparecem. Não, todavia, com a intensidade dos tempos mais antigos. O que não é de estranhar, no contexto social dos tempos que vivemos.
        Se a “Missa do Galo” ou Missa da Meia-Noite é às 21 horas, é questão menor. As convicções suportam as pequenas mudanças. Porque é na convicção da mente e do coração que reside o suporte do acto de fé.
        No regresso, por outro caminho – longe dos olhares atentos e camuflados do “santo ofício”, de feminino vestida pelas costas do norte da ilha – o pensamento foi direito para o “canto” do galo, que terá de fazer-se ouvir pelos campos, hortas e quintas de toda a freguesia. Aqui, a questão já é outra, bem mais pertinente.
        Terá de fazer-se ouvir, o galo, na freguesia, que o ministro Relvas quer varrer do mapa. Aqui, outro galo canta. Canta de noite e de dia. Sempre.
        Pelo que a maneira de o fazer calar, não será fazer do mesmo a “consoada” da véspera da noite de Natal, mas fazer com que cante no poleiro, e só no poleiro da freguesia, e de pescoço bem levantado, para ser ouvido em TODA a freguesia.
 Alegre, todas as manhãs, avisando cada freguês que são horas de levantar e ir para a terra, lavrar e tratar dos animais. Lavrar e tratar da freguesia que tem dono.
        “Pela noite de Natal”…, o pensamento foi ao encontro do Presépio e da Freguesia. O Presépio tem futuro, enquanto houver crentes que livremente o fazem e alindam; a Freguesia obrigatoriamente terá de ter futuro pelas mãos dos fregueses que a justificam e do governo que suportam.
        No percurso, o CD NATAL rodou algumas três vezes. Num percurso amaciado, com música macia e suave, que distrai e ajuda o pensamento. Numa noite estrelada, como não já via há muito. Boas Festas.
        altodoscedros.blogspot.com
            escrito na ortografia antiga