O meu conterrâneo, Professor Hélder Fernandes, lançou lamentações de indignação no jornal "O Dever" de 1 de Dezembro, acerca do que se tem dito sobre a possibilidade de algumas freguesias virem a ser extintas. Concretamente referia-se à Ribeirinha.
Embora pressinta que nada de bom está para vir e que a indignação é sempre legítima, vou tentar tranquilizar aqueles que comungam das mesmas preocupações.
Foi o poder regional que criou a nova freguesia. Foi a primeira. Já depois dela criou outras freguesias. O poder regional, pois, tem esse poder: de criar e extinguir freguesias.
E dentro desse poder regional dei o meu contributo para a criação da freguesia da Ribeirinha. Nos arquivos do poder legislativo lá está a leitura do documento, feita antes de cada discussão. Ocupava o lado esquerdo do velho amigo Álvaro Monjardino. Tive no centro da discussão, e também votei a seu favor.
Com estas recordações quero dizer, que também ficarei triste, se as previsões, provenientes de muitos lados, se vierem a concretizar. Não se estranha que venham das populações. Estranha-se, sim que venham de quem nada tem a ver com a organização administrativa da região. Tordesilhas já vai longe! (Para bom entendedor, meia palavra basta).
Por toda a parte vemos trabalho feito. Nos arruamentos, nos muros de vedação, nos caminhos novos que rasgou, no seu porto da Baixa, nas reparações governamentais e autárquicas, na sua nova Sede da Junta.
Penso, todavia, que ainda não terá chegado o tempo para levantar grandes lamentos. Estamos ainda nas expectativas.
Mas há pressupostos a ter em conta, e eles devem ser referidos. Se se quer reordenar o território em nome da poupança, teremos de ser frontais e dizer, preto no branco, poupar, sim, mas a começar por cima.
Isso mesmo. O poder regional – Assembleia Regional e Governo Regional com todas as suas Secretarias – teriam de situar-se numa só ilha. Só com esta mudança muito dinheiro se pouparia. Além disso, hoje, com as comunicações electrónicas, tudo se resolve em minutos.
E depois, sim, façam-se os respectivos estudos. A organização autárquica já vem de muitos anos, séculos. Foi sempre criada por causa das pessoas. Foram elas que fizeram os seus concelhos, as suas freguesias, vilas e cidades. Foram elas que se impuseram, escolhendo os lugares para viver. Foi o seu trabalho, o seu dinamismo. O património urbano da freguesia ou da vila, ao povo pertence. Desde o primeiro povoador.
Não é alterando, nesta área, seja o que for que se vai levar à poupança, e à maior economia da Região. Pelo contrário. Quanto menos oportunidades se derem às pessoas, menos será possível o seu desenvolvimento. E este começa pela casa onde se habita.
Nesta fase, temos de ter em conta o seguinte: será o poder regional a liderar todo o processo, se o mesmo vier a ser posto na mesa para discussão, (o que francamente, ainda não acredito). E não creio que os deputados da Região tenham coragem para falar em nome dos eleitores, aprovando leis contra os mesmos eleitores. E aqui, já não me refiro só ao povo da Ribeirinha, mas outros também. Um pormenor: será que nas próximas legislativas regionais, os partidos vão referendar nos seus manifestos eleitorais alguma alteração neste sentido?
Por enquanto, estamos no guarda-vento da porta de entrada da grande catedral do poder. As portas ainda não se abriram. Apenas se ouvem passos perdidos e apressados nos corredores por detrás dos altares. Vamos esperar para ver e ouvir no desenrolar das cerimónias.
Para o Professor Hélder Fernandes a minha sintonia total. “Vamos lutar, a esperança é a última coisa a morrer”.
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escrito na ortografia antiga