quarta-feira, 7 de março de 2012

Na apresentação da biografia de D. José Vieira Alvernaz - 04.03.2012

A todos os presentes damos as boas vindas, para uma sessão cultural pouco vulgar. Não recordo, por aqui, sessões culturais desta natureza, ou seja uma apresentação pública de um livro. E logo, para começar, de um livro biográfico de um filho desta terra - José Vieira Alvernaz.
Quem foi o seu biógrafo? A pergunta tem de fazer-se no feminino, já que se trata de uma senhora - Maria Guiomar Lima, aqui sentada ao meu lado. Comecemos então por aqui. Quem é esta senhorea?
Maria guiomar Lima nasceu nesta freguesia da Ribeirinha, na altura lugar da Piedade, a 7 de Fevereiro de 1950. É filha de João Lima e de Maria de Jesus Azevedo Lima. Ainda jovem, na companhia dos seus pais, foi viver para Angra, no ano de 1959. Nesta cidade viveu e fez os seus estudos no Liceu de Angra do Heroismo até 1972.
Está joje aqui connosco, a convite da Junta de Freguesia, para apresentar o seu livro sobre a vida de D. José Vieira Alvernaz.
Seja bemvinda à sua terra natal.
Obrigado pela sua presença.
Obrigado por me ter dado esta primeira fala.
Obrigado pela prenda que nos traz.

Quando o Patriarca Vieira Alvernaz regressou de Goa em 1963, passou a residir na sua casa em Santa Luzia de Angra. E aqui, ocupava o tempo, dando explicações a alunos e alunas que o procuravam. Foram muitos que o fizeram.
Maria Guiomar foi uma dessas alunas. Teve, pois, o privilégio de, durante largos anos, conhecer e entender o homem que lhe dava excplicações. De beber de um estudo acompanhado, paciente e metódico, como paciente e metódico era o senhor Patriarca. Era, no dizer do povo, "um poço de sabedoria".
Mais tarde licenciou-se em Psicologia na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação de Lisboa. Iniciou um mestrado em comunicação social na Universidade Nova, foi jornalista duramte três décadas, tendo trabalhado no Jornal Novo, Diário de Notícias, Diário de Lisboa, semanário O Independente e outros. Fez parte da célebre e malograda expedição a Timor, no navio Lusitânia, impedido que foi, por forças navais indonésias de sulcar as águas timorenses.
A investigação destinada à publicação desta obra decorreu entre 2005 e 2009 sob a orientação do Professor Artur Teodoro de Matos da Universidade Católica.
Recordando os contactos personalizados - do tempo das explicações em Angra, que foram as primeiras fontes de informação - meteu mãos à obra, com o desejo de tornar mais conhecido e reconhecido o senhor D. José Vieira Alvernaz, sobretudo pela acção que teve durante a ocupação do território pela União Indiana.
Chamo a atenção para o capítulo que fala dos dias difíceis da ocupação. E permiram-me que repita o que já disse noutro lugar: "os grandes homens medem-se também pela coragem de desobedecer ao chefe quando se trata de salvar vidas". Salazar não lhe perdoou, mas Salazar é que perdeu.
Maria Guiomar conversou com ex-combatentes da Índia. Combatentes feitos prisioneiros, entre os qauis o Capitão Manuel Bernardo Riqueza, picoense, natural de São João. Conversou com Pezarat Correia, Adriano Moreira, com o neto do então Governador da Índia, General Vassalo e Silva, com muitas outras individsualidades daquele tempo.
Procurou nos arquivos nacionais: Arquivo Histórico Ultramarino, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Biblioteca Nacional, Sociedade de Geografia de Lisboa, jornais insulares e nacionais. Foi a Roma a andou nos corredores cemtrais da Igreja Católica, sobretudo no Pontifício Colégio Português.
Concorreu a uma bolsa de estudos da Fundação do Oriente, e foi até às dioceses de Goa e Cochim. Procurou informações nos arquivos, leu jornais da Índia Portuguesa e os boletins eclesiásticos. Falou com sacerdotes e leigos que conheceram D. José. Nestas curtas estadias teve oportunidade de consultar e ouvir os ecos deixados por Alvernaz nas terras do Oriente.
Para ler a biografgia, melhor será começar pelo percurso que Maria Guiomar fez, e que está na página 247 e seguintes.
Eu chamo-lhe uma nova viagem para a Índia, mas para outras descobertas, com muitos novos portos, muitos novos ancoradouros, muitos testemunhos, todos dados com alegria e afecto, desta feita sem cabo das tormentas, nem adamastores de meter medo. Tudo para descobrir terras pisadas por um filho desta terra, conhecer o seu trabalho, os testemunhos que lá deixou, para, finalmente, nos dar a conhecer, a todos, o que foi a vida deste homem. Uma prenda para os Açores.
Lembro que prepara um novo livro. Desta feita sobre o Cardeal Costa Nunes. E eu ficaria por aqui. Maria Guiomar vai dizer o mais importante. Eu limitar-me-ia a acrescentar o seguinte: esta biografia que aqui hoje se apresenta é a biografia de um santo.
Transcrevo o que está escrito nas primeiras linhas do livro, e que são reveladoras da santidade deste homem: "Era Outono de 1962, o  Concílio Ecuménico Vaticano II ia começar. Um homem alto, magro, de barbas brancas desembarcou no aeroporto de Roma, vindo do Oriente. Queimado pelo sol, usava a batina clara e o chapaéu dos bispos missionários e parecia exausto com o olhar cansado de quem não dormia há muito. Procurou uma cara conhecida entre a multidão que aguardava passageiros, mas não viu ninguém à sua espera e baixou a cabeça ainda mais abatido. Em seguida endireitou-se, firme, espadaúdo, pegou na sua pequena mala de viagem e tomou um transporte público para o centro da cidade".
Parabéns à Maria Guiomar Lima por esta viagem à Índia, à descoberta das obras e feitos que por lá deixou José Vieira Alvernaz filho da Ribeirinha desta Ilha do Pico, filho dos Açores, de Portugal e do Mundo. Ribeirinha, 4 de Março de 2012. Manuel Emílio Porto.