terça-feira, 6 de março de 2012

Um livro que vem para clarificar

Acaba de sair o livro “Jesus de Nazaré e as Mulheres”. E acabo de ler a entrevista que o seu autor, Artur Cunha de Oliveira, deu ao Correio dos Açores de 1 de Março de 2012.
        Cunha de Oliveira é estudioso seguro. Não apresenta nada que não seja fundamentado e bem fundamentado. Há todavia, sempre houve, ressonâncias negativas. Que irão aparecer, com certeza. Ou talvez não.
        Hoje é certo que nem tudo o que sai do Vaticano tem o selo de garantia. Historicamente, quantas verdades saídas e abençoadas com bênções do céu acabaram em mentiras no cesto dos papéis.
        Não vou comentar a questão de Madalena, porque não estou fundamentado, não é o que mais importa nos dias que correm, acredito na explicação dada por Cunha de Oliveira, e vou para a seguinte afirmação que ele, muito bem, coloca: “Na Igreja Católica há uma necessidade absoluta de repensar muitas coisas e de colocar a verdade acima de tudo. Uma coisa é a lenda, a crença, a fé, e outra é a história e a verdade.” Mais: eu diria que os tempos mudaram e mudaram por completo. Mudaram do avesso.
        Este é um ano para continuar a insistir nas reformas há muito badaladas e nunca concretizadas. Decorrem 50 anos do concílio Vaticano II, um concílio que tanto prometeu, mas que nunca foi além do vernáculo na missa. Alguém, de créditos firmados, diz que o Concílio é agora. Vou mais longe: é agora, sim, mas já devia ter sido. Muito tempo se perdeu atrás de vaidades e preconceitos sem pés nem cabeça. Os apelos a uma prática antiquada são cada vez mais pontos de desorientação e afastamentos.
Parece que existem duas forças antagónicas. Uma que parte do Vaticano e que aponta sempre no sentido do seu passado interno. Outra que espera abertura a novas formas de estar dentro da Igreja.
O Vaticano II deixou portas abertas para muitas reformas, tais como a abolição de condições para o exercício da evangelização. A todos os níveis. As fidelidades só se justificam quando existem condições para a sua manutenção. Desaparecem quando as condições mudam, e passam a ser outras. Quando é que o Vaticano aceita e subscreve a declaração universal dos direitos do homem?
 Nada pode ser eterno. Só há um cristão e sacerdote para sempre - in aeternum – Jesus Cristo. Os outros – os que o seguem – são cristãos e sacerdotes efémeros, como efémera é a vida neste mundo, enquanto optam livremente pelo compromisso assumido, enquanto as condições se mantém. Não há marcas, ou selos indeléveis, como fizeram crer os teólogos medievais.