segunda-feira, 19 de março de 2012

"Semanas Culturais e Recreativas" (II) - Ribeirinha

No ferro puxaram pela têmpera. Bateram na bigorna. Calçaram o arado e a roda, fizeram o alvião e a enxada, o machado e a foice. Fizeram a trempe de suportar a panela da açorda de pão duro.
 Mestres do ferro, foram o José Tomé, pai e filho, os irmãos António Maria, Manuel Maria e o Manuel Lopes, este ainda hoje com acção continuada em um dos seus filhos.
Mas…não menos importante foi a obra das mãos femininas.
Se os homens foram mestres, não menos o foram as mulheres, companheiras e geradoras de filhos. Cozeram o pão, cardaram e fiaram a lã. Fizeram sueras e meias de agasalho. Secaram e debulharam os milhos, enchendo as caixas do grão para o pão de todo o ano. E nos campos foram sempre ao lado do arado e do boi, deitando à terra a semente de matar a fome.
Os campos foram pródigos para todos. Mais para uns do que para outros. Todos tiveram a sua quota parte. Dos que emigraram, muitos fizeram fortuna.
Os mais abastados mandaram os filhos estudar e alguns singraram. Foram professores, advogados, médicos, engenheiros, enfermeiros, jornalistas, padres, deputados, juízes, um monsenhor e um bispo do Oriente, nesta semana recordado, com a apresentação pública da sua biografia, feita por Maria Guiomar Lima, uma das alunas do patriarca, feito exilado e professor voluntário da casa de Santa Luzia de Angra, onde viveu até ao fim dos seus dias.         
Até que os novos tempos também chegaram. Os anos 50 do século passado foram determinantes. Mais do que a estrada Lajes/Piedade, foi a abertura da estrada Piedade/São Roque que abriu por completo as portas aos anseios e preocupações, até então puras miragens, utopias e sonhos, só compensados nos caminhos da emigração e desfeitos mais tarde depois do 25 de Abril de 1974.
        De imediato, foram melhoradas as antigas canadas de acesso, refundidas e adaptadas às exigências dos novos meios de transporte: os ramais do Biscoito, da Terra Alta, da Baixa, o Caminho do Fundo, a Canada Nova, a Canada do Outeirão, a Canada da Tenda, a Canada da Atalhada para os matos, a ligação da Baixa com o Calhau da Piedade e por último o ramal do Porto da Baixa, já no rescaldo revolucionário do 25 de Abril e inaugurado pelo Governador Sá Vaz.
        Haverá mais para melhorar? Naturalmente que sim. As vias que descem para as arribas do mar – as canadas da Fonte, das Quebradas e outras – são tarefas para observar com atenção, assuntos para os encontros de todos os dias. Os interesses pela comunidade são contínuos.
        Não esqueço o caminho para a Rocha das vinhas. Possivelmente por lá não se voltará a cultivar a vinha, mas é lugar para árvores de abrigo. Assim, a figueira, a laranjeira, a macieira e o castanheiro, encontrarão ambiente de crescer e produzir.
        Até à beira rocha, o acesso é de fácil melhoramento para viaturas ligeiras. É de valor acrescentado para as propriedades circundantes.
Todavia, o maior interesse está no mirante sobre a arriba, pois ultrapassa o interesse local. O Alto dos Cedros é, na verdade, um mirante, menos grandioso do que o da Terra Alta na estrada corrente, mas não menos belo. É importante que seja procurado por visitantes, que hoje, com frequência, desembarcam e vão ao encontro de todos os recantos da ilha.
        O acesso pedonal, do mirante à profundidade da beira-mar, continua. Os trilhos podem de novo ser melhorados. A costa marítima, pródiga que sempre foi nas coisas que o mar produz, lá continua esperando por quem gosta de molhar os pés nas águas do baixio e provar do que ele oferece. Pese embora os condicionalismos impostos pelos novos governantes nas apanhas do marisco e da pesca de lazer. (Continua) (escrito na ortografia antiga)