quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Faleceu o João Brum

Aquele que durante muito tempo publicou, no jornal “O DEVER”, as crónicas com o selo de “Haja Saúde”, faleceu a 23 de Fevereiro nas Lajes do Pico.
        A saudação – Haja Saúde” – foi a forma simpática e afectuosa das nossas gentes, que escolheu para se identificar no jornal, quando escrevia para os seus amigos e para os seus leitores anónimos.
        O “Haja Saúde” marcou presença assídua em “O DEVER”, em muitos dos seus números, e durante muitos anos. Foi sempre bem acolhido pelos seus directores e responsáveis. O João foi sempre defensor da prática cristã que bebeu na catequese da sua paróquia – a Silveira. Era um homem de fé.
        Por motivos de doença que não perdoa, já algum tempo que tinha deixado de enviar para o jornal os “rabiscos” que fazia. Acrescentava, magoado, “também já não me querem”, paciência!
        O João Brum andou no Seminário, mas não fomos companheiros de curso. E poucos anos nos separavam. Nas férias vivíamos longe um do outro. Nas nossas respectivas freguesias.
No Seminário de Angra revelou qualidades humanas relevantes no campo das humanidades, mormente das letras. Colaborou assiduamente no jornal manuscrito – “O Carpinteiro” – jornal da Prefeitura do Grupo dos Médios, que tinha como patrono São José. Fica esta memória, que ainda recordo.
        Depois, o João Brum entendeu que a sua vida futura deveria ser outra. E optou. Depois de muitas experimentações, acabou por emigrar para as Américas. Durante muitos anos, até 2003, nunca mais soube do seu paradeiro. Apenas lia o seu “Haja Saúde” no jornal da Igreja desta Vila. Por outras fontes fui sabendo das suas escritas na Califórnia e dos revezes que também elas lhe deram.
        Para a revista Gávea-Brown escreveu uma entrevista conduzida por Onésimo Teotónio Almeida. Dela respigo a seguinte resposta à pergunta: “Californias perdidas de abundância”. Glosa, por favor, este poema de Pedro da Silveira. “Não tenho sonho nem jeito para essas abundâncias, mesmo tendo ido para a escola primária muitas vezes em jejum. Aí, onde nadas em leituras e escritas, nunca namorei a vanguarda e perdi o fôlego à retaguarda. Deus talhou-me para meio-termo, que agora é um quase marasmo. Se pudesse voltar atrás, o meu horizonte seria muito diferente daquele que me levou à Califórnia. Estou metido num ninho antes usado…Porque duas vezes somos meninos. Bem sei, não “glosei” como esperavas. Adivinha porquê”. (Revista citada, pag. 181).
        Quando apareceu por aqui, vinha só, e de mãos vazias. Para trás tinha deixado a América, que, segundo dizia, nada lhe tinha dado. Era um homem carregado de tristezas e tragédias.
        Viveu os últimos anos pobremente, apoiado por algumas pessoas amigas e por algumas instituições. Conversámos com frequência. Sobretudo do que escreveu e gostava de escrever para o seu Dever, mostrando alma brilhante, vernácula, mas que, aos poucos, acabou também por desistir.
        João Pereira da Costa Brum, nasceu a 6 de Março de 1938, na Silveira, Lajes do Pico. Tinha 73 anos. Condolências aos familiares e amigos.
Haja saúde, João. Quando Deus quiser, havemos de nos voltar a ver.
                        Manuel Emilio Porto