sexta-feira, 8 de julho de 2011

Mais uma vez... o Espírito Santo

Mais uma vez, e sempre, o Espírito Santo. Assim aconteceu, como vem sendo hábito, para o lado das Lajes, na festa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
Nos finais de Junho passado, por toda a parte se falou em São Pedro, primeiro Papa da Igreja, e do seu companheiro, pregador da fé aos gentios.
Nos tempos recuados da sua presença física no mundo, andaram misturados com as gentes do seu tempo – vestidos como os demais. No seu íntimo possuíam a chama viva do Espírito Santo, uma diferença que não se via nem se entendia, uma força estranha.
Foi com o seu exemplo de firmeza, e fé da força do Espírito que evangelizaram. Os “gentios” de então viram e testemunharam: “vede como eles se amam”. Neles não havia segregação, não eram nem faziam parte de uma classe à parte.
Eram homens de fé, no meio de outros homens e mulheres, uns solteiros, outros casados. Pedro também era casado. Faziam comunidades que acreditavam em Jesus. O seu apostolado foi esse mesmo – fazer comunidades em espírito e verdade. Sem segregações.
Tudo isso foi cimentado pela acção do Espírito Santo que habitava no coração dos que se iam juntando. O “Espírito Santo sopra onde quer e como quer, sem olhar a pessoas”.
Neste final de Junho lembraram-se os primeiros passos da Igreja sem regras, nem cânones escritos, apenas guiada pela acção do Espírito.
Felizmente que nesta terra, se colocou a festa do Espírito ao lado da festa de São Pedro. Sabemos das circunstâncias históricas dessa mudança. Hoje dizemos que foi a melhor forma de prestar homenagem ao primeiro Papa da Igreja. Porquê? Porque, acima de tudo e de todos está a acção do Santo Espírito.
 Antes da exaltação ao sucessor de Pedro, importa a exaltação ao Espírito. O primeiro é humano, o segundo é transcendente, e está em qualquer homem de boa vontade. Ao longo dos tempos, foi o ser humano a causa de muitos males e desvios dentro da própria Igreja. O papado não se livra de muitos períodos negros, mesmo que se arrogue ser o legítimo representante de Deus na terra. E de muitos desajustamentos ainda hoje. Os maiores males da Igreja ocorreram sempre no seio dos poderes instituídos. Ao contrário, sempre brilhou a força do Espírito, no Povo Santo de Deus.
Junho terminou, mais uma vez, com a força do Espírito Santo no meio de nós. Não só nas Lajes, mas também na Baixa, e daqui a dias na Almagreira, ou em outros lugares por essa ilha toda.
São sinais da presença do Espírito, a imprimir alma e vida às outras festas. São sinais cristãos, inspirados na fé, e não em imposições desprovidas de sentido.
São sinais de alegria para dar e partilhar, cumprimentos afectuosos, um “bom dia” ou uma “boa tarde”, cheia dos sentimentos tradicionais que nos caracterizam.
Estou em crer que são fruto da vontade de participar. Hoje isso é notório. Por toda a parte. A religiosidade popular é assim: aparece por si, sem regras fixas e rijas. O acto de participar não obedece a conceitos prefabricados nem a indicações paroquiais ou episcopais. Brota por si mesmo. É fruto do Espírito. Deus não precisa de invocações buriladas para dizer o que quer e deseja. Basta-lhe a simplicidade da alma que escolhe para realizar a sua acção benfazeja.
Não levará muito tempo, é a nossa opinião, e esses mesmos sinais poderão estender-se a outras festas. Serão os povos que o farão. Sempre eles na dianteira.
Anselmo Borges, conceituado teólogo português, publica um interessante artigo no jornal de Notícias de 25 de Junho sobre “As sopas do Espírito Santo”. A certa altura diz ele assim:
“Houve sempre, ao longo da história da Igreja, um conflito entre os que acentuam o lado visível, institucional, hierárquico, e os que sobrepõem à Igreja visível uma igreja espiritual, carismática, fraterna. Os franciscanos “espirituais” – fraticelli (irmãozinhos) –, desgostosos com os Papas que abafavam o Espírito, aderiram à inspiração carismática, espírito-santista do monge Joaquim de Fiore (século XII), que dizia estar o mundo dividido em três idades: a idade do Pai ou da lei, que é a idade do medo e da servidão; a idade do Filho, que é a idade da submissão filial; e a idade do Espírito Santo, que é a idade do Amor, da Liberdade e da Fraternidade.”
À luz destas palavras, eu diria que estamos na terceira idade, na idade do Espírito contra a arrogância e a prepotência do poder absoluto que só afasta e não atrai.
Que diria este teólogo português se, daqui a dias, visse esse mesmo Espírito Santo espalhado pelas ruas de Ponta Delgada por motivos políticos e de promoção turística, perante 12.000 sopas?
 Seria de novo “Constantino”, agora feito "Mordoma", a cobrar o fruto da liberdade concedida, satisfazendo assim as tropas com pão e circo?
Que dirão os crentes e as irmandades - já não digo o responsável máximo, porque não existe - quando o Espírito Santo é usado para fins puramente folclóricos e políticos? Não sabemos.
Mais uma vez o Espírito Santo... Pelos piores motivos!Gostaríamos de saber a resposta do conhecido teólogo. Como também gostaríamos de saber o que dizem os teólogos do Santo Ofício.
-Texto escrito na ortografia antiga.
-altodoscedros.blogspot.com