quarta-feira, 13 de julho de 2011

No rescaldo da feira...

Só há um caminho a seguir – o nosso, e na companhia dos nossos.
No final da feira, o grupo “Alma de Coimbra” cantou. E terminou o seu canto com o nosso José Ferreira a cantar a Chamateia. No texto desta canção há a quadra seguinte: “Mas no terreiro da vida // o jantar serve de ceia // e mesmo a dor mais sentida // dá lugar à Sapateia”.
        Ora bem. Foi das poucas vezes em que todos os ingredientes se juntaram no mesmo palco com cenário apropriado.
        O nosso caminho está no terreiro da vida. E, embora o jantar já não sirva de ceia, a verdade é que o terreiro continua, e é no terreiro que todos se movimentam e tudo se ajunta.
        Os campos, os nossos campos continuam a chamar. E a dizer a toda gente que são capazes de nos dar aquilo que quisermos. Basta que lhe atiremos umas “mancheias” de sementes e uns punhados de fertilizantes, para logo de seguida nos dizerem: colham, é vosso.
        Os nossos terreiros são dos melhores. Podemos confiar neles porque são de palavra. Nem sempre são planície, pois fazem parte de ilhas vulcânicas, mas mesmo em socalcos, são de garantia.
        Nos nossos campos, os animais encontram o melhor dos ambientes para se desenvolverem, crescerem e darem prazer aos seus criadores. Encontram sustento de qualidade para dar progresso a esta terra, feita de ilhas dispersas.
        Os nossos terreiros, como já foi no passado, são também dos melhores para os produtos hortícolas de ir à mesa do jantar. Em tempos de crise, sempre é bom não esquecer esta vertente. De fora, não vem nada de melhor qualidade. Talvez, umas frutas de climas exóticos e pouco mais.
        Na exposição de produtos, lá estava patente o que acabamos de dizer. Desde os produtos lácteos até aos vinícolas. Do mel aos doces caseiros. Dos livros aos artesanatos.
        A Feira Agrícola Açores foi essencialmente agrícola. Era essa a sua especialidade. E, no nosso ponto de vista, conseguiu os seus objectivos.
        Nós vivemos em ilhas. O terreiro esteve em evidência, por entre os cabeços do Caminho Largo, na freguesia da Piedade. Do outro lado dos cabeços, ficava o mar imenso, a planície dos Açores.
        Na verdade, somos terreiro, mas também somos planície. Esta segunda merece um evento que fale e diga da sua história paralela? Talvez não precise de tanto, pois, todos os dias se fala dos mares, dos pescadores e dos pescados. Quem passa perto dos portos de pesca tem ocasião de ver o que se faz diariamente. Todos os dias, ou com frequência, é a imagem que se vê, aqui bem perto, no pequeno porto – uma espécie de presépio à beira costa plantado.
        Talvez como complemento. Muitos dos que estavam no terreiro também tem um pé nas águas, e talvez tenham saído mais cedo para acudir ao barco que esperava. Faltou isso mesmo: mais qualquer coisa para chamar a atenção dos mares que ficavam para lá dos cabeços. Não foi, todavia, nenhuma pecha. Talvez seja eu mesmo que assim pensei.
        Fica o tema desta crónica – o nosso caminho é este. São os nossos campos e os nossos mares. Na companhia dos nossos. Dos que falam a nossa língua, dos que falam e entendem das mesmas coisas, e fazem a sua vida dentro das mesmas fronteiras – na terra e no mar.
        Em ambos, haverá sempre a dor mais sentida. E haverá sempre lugar para a sapateia. A noite ia calma e ameaçava chuva miúda. Ninguém arredou pé. Foi o que senti, naquela noite de 10 do corrente, na encosta do Cabeço da Era, por entre pinheiros, faias e incensos, ouvindo a Chamateia – ali feito sapateia, vestida de capa e batina.
        Obrigado à Câmara das Lajes por ter “desviado” o grupo “Alma de Coimbra” para aquele lugar, e para aquela ocasião.
-texto escrito na ortografia antiga
-altodoscedros.blogspot.com